quarta-feira, 22 de junho de 2016

Picarelli quer governo técnico em Santo André

Por Eduardo Kaze

Nascido e criado em Santo André, o advogado Fabio Picarelli carrega em seu currículo conquistas relevantes. Presidiu a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) andreense de 2010 a 2015 - dois mandatos seguidos, elegendo, em seguida, seu sucessor. Marcada pelo que ele próprio designa como dinamismo, eficiência e comprometimento, sua gestão frente à OAB realizou 95% das propostas de campanha. Foi um dos porta-vozes na chamada Lei Ficha Limpa Municipal, criou o Observatório da Cidadania para acompanhar as ações do governo municipal e a OAB itinerante, levando conhecimento sobre o Direito aos andreenses. Foi ainda responsável pela vinda do Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (IMESC), atualmente operante dentro da Faculdade de Medicina ABC e responsável pela realização de exames gratuitos de DNA para a população de baixa renda.

Em entrevista exclusiva ao Ponto Final, Picarelli ressaltou a necessidade de buscar novos caminhos para a política em Santo André, passando pelo aumento de parcerias público-privadas, redução da máquina governamental e melhor gestão dos gastos públicos. 

Picarelli é uma das novidades da política no ABC | Foto: Eduardo Kaze


Ponto Final: Atualmente, quais os principais e mais urgentes problemas de Santo André?
Fabio Picarelli: Santo André, hoje, é o retrato do abandono. Por onde andamos pela cidade, o que se recebe são relatos da falta de cuidado com a cidade. E isso tem motivo: atualmente, há um endividamento muito grande da Prefeitura. O primeiro passo é uma revisão geral dos contratos e o equilíbrio das contas. Para que Santo André volte a ter desenvolvimento, precisamos que voltem a investir na cidade, e eles (os investidores) não virão enquanto estivermos com as contas negativas. A Prefeitura deve R$3 bilhões em dívidas de precatórios, outros R$ 2 bilhões para a Sabesp, divididas no Instituto de Previdência, Craisa, Semasa. Tudo isso somado, torna Santo André uma cidade sem potencial de investimento. É, ainda, necessário buscar novos modelos de gestão, tanto destas empresas, quanto também de contratos da Prefeitura com fornecedores.

Além disso, precisamos de um governo presente. Verificamos diversas reclamações, desde a área da Saúde, que hoje possui um enorme "gargalo" no atendimento, até o cuidado com a cidade. O que vemos são praças sem capinagem, e até o próprio Paço municipal, onde o prédio do Executivo está ruindo e a grama tem crescido entre as pedras portuguesas do piso. Respeito o prefeito Carlos Grana, e outras pessoas do governo, mas vejo que eles não conseguiram compor uma equipe com capacidade para melhorar a cidade, que não recebe um grande investimento há mais de 10 anos, destoando do resto do ABC, que está evoluindo.

PF: O senhor comentou sobre a  falta de "presença" da atual gestão. Como pretende intensificar esta atuação, caso seja eleito?
FP: Nosso governo futuro terá um viés absolutamente técnico. Temos, por exemplo, parceria com o IVEPESP (Instituto para a Valorização da Educação e da Pesquisa no Estado de São Paulo), que congrega professores universitários da UniCamp (Universidade de Campinas), da USP (Universidade de São Paulo), entre outros, que estão fazendo a coleta das principais queixas dos munícipes em relação à cidade e transformando isso num plano de governo viável, dentro dos estudos econômicos, sociais etc. Ou seja, nosso governo terá um pano de fundo técnico, com ritmo de agendas positivas.

PF: E como essas demandas serão encaminhadas no plano de governo?
FP: Defendemos uma Prefeitura com uma “máquina” menor, com eficiência na gestão do dinheiro pago em impostos pelo cidadão. Queremos realizar a diminuição de, no mínimo, 40% no número de funcionários comissionados, além de agrupar pastas - hoje, temos 24 secretarias, a ideia é que tenhamos 12. Vou dar um exemplo de uma parceria que pretendemos realizar. Na Saúde, a maior queixa atualmente são as filas para consultas e exames. Em Santo André, temos um número grande de clínicas e laboratórios com períodos ociosos; ou seja, uma clínica que é lotada até às 14h, mantém depois deste horário sua mesma estrutura. Este tempo ocioso pode ser negociado em lotes com a Prefeitura, por meio de convênios específicos. Tive esta ideia quando recebi, na OAB a startup Examine Já, uma empresa nova e que inaugurou seus serviços em Santo André nas dependências da OAB. Eles têm um portal na internet no qual a pessoa determina o exame do qual necessita e o próprio portal encontra o exame mais barato e facilita o pagamento. Com base neste modelo, queremos desenvolver uma parceria público-privada com a Prefeitura e, acredito, em pouco tempo acabaremos com esse "gargalo" na Saúde. Desta forma, ainda evitamos a construção de novos prédios públicos. Pelo modo convencional, para "desafogar" a Saúde em Santo André, seria necessário um terreno, a construção do prédio, equipá-lo, contratar médicos, etc. Ou seja, é um sistema que não se sustenta mais. Acreditamos que a partir de parcerias público-privadas que fará a diferença em relação às contas e à eficiência, podendo ser aplicado em todas as áreas.

PF: Em sua opinião, de que maneira o ambiente político nacional e estadual afetará as eleições municipais?
FP: Tenho visitado as comunidades, andando pelos quatro cantos da cidade e, na medida em que chegamos nas áreas periféricas, uma das abordagens mais comuns é nos perguntarem se somos do PT (Partido dos Trabalhadores). Se for, automaticamente nem te deixam falar. Ou seja, há uma resistência muito grande em relação aos indivíduos que já passaram pelo governo, ou estão no governo. Nossa pré-candidatura nasce daí: dar ao andreense uma candidatura nova, pois, se você pegar os demais pré-candidatos, todos já passaram pela Prefeitura, sendo vereadores, secretários, prefeito, etc. O que as pessoas estão buscando, em virtude da "contaminação" que houve na política, são nomes que tenham um histórico de eficiência e não possuam vínculos e vícios políticos. O momento é dos não-políticos.

PF: Pegando este gancho do "momento dos não-políticos", o senhor diria que suas atividades pregressas, à frente da OAB, por exemplo, contribuem para sua candidatura e possível gestão?
FP: Meu trabalho na OAB, por seis anos, me deu uma visão diferenciada. A Casa da Advocacia tem o olhar voltado para os três poderes. De lá pude verificar, através do Observatório da Cidadania e projetos que surgiram na entidade, que é possível fazer um trabalho diferenciado. É possível desenvolver novos modelos. A própria administração da entidade é exemplo disso: a OAB de Santo André não tem faturamento, ela é um braço da OAB de São Paulo e, mesmo sem verba, fomos capazes de realizar 75 modificações na casa do advogado, seja na parte física, seja na parte das ações e das comissões - a grande "locomotiva" da OAB são as comissões setoriais, as quais saímos de seis para 60. Conseguimos, também, fazer movimentos sociais importantes e vitoriosos, como o movimento anticorrupção, movimento pró ficha-limpa municipal, movimento contra o aumento de cadeiras de vereadores, contra a diminuição de sessões legislativas... ou seja, tudo isso nasceu dentro da OAB e com resultados positivos. Vejo que meu trabalho na OAB mostra que é possível, mesmo sem ter muitas condições financeiras, uma administração dinâmica e participativa e acredito ser essa a razão para que meu nome surgisse espontaneamente nas pesquisas de intenção de voto para prefeito; apenas por esse motivo aceitei o desafio de me candidatar, e o que mais me motiva é o fato de meu nome surgir mesmo sem eu ter qualquer posto político na política tradicional.

PF: Como o seu partido se comportará em termos de aliança com outros partidos?
FP: A informação que temos é que nossa pré-candidatura é uma das que mais tem crescido. Em relação às alianças, são todas muito bem-vindas, dialogamos com outros partidos em busca de união mas, neste momento, nosso foco principal é o fortalecimento de nosso grupo (Democratas) e da chapa de vereadores. Deixaremos a questão das alianças para quando ocorrerem as convenções.

PF: Qual a sua visão da Santo André de hoje?
FP: Santo André tem possibilidades, tem dinheiro, mas não o tem utilizado bem: temos o caso das Ciclofaixas, que consomem, por domingo, R$ 130 mil. Isso corresponde a R$ 5 milhões ao ano. São gastos necessários, e o andreense a merece, mas poderia ser feita com um custo muito menor. Outro exemplo é a reforma do Parque Celso Daniel, na qual foi gasto a quantia de R$ 5 milhões num equipamento já existente, com obras superficiais, privilegiando principalmente a parte visual e que hoje nem estão funcionando mais - com este dinheiro, daria para ter feito outro parque. Por último, a questão da Comunicação, cujo orçamento é de R$ 20 milhões. É o governo falando dele mesmo, de obras não realizadas, e gastando este valor absurdo. Sabemos que não foi gasto tudo e há valores liquidados e valores pendentes. Estamos falando de três coisas simples, que somam R$ 30 milhões, valor que poderia ser destinado aos problemas mais sérios da cidade.

Obs.: Espaço aberto a todos os candidatos aos cargos eletivos de 2016. Interessados em apresentar suas ideias e propostas aos leitores do Ponto Final escrevam para redacao@pfinal.com.br.




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