terça-feira, 22 de agosto de 2017

A Ku Klux Klan velada do Brasil

*Por Liliane Rocha

De ontem para hoje vi uma série de pessoas impactadas com a reportagem de um programa de televisão que abordou a questão do crescimento e fortalecimento de grupos racistas nos EUA. Realmente o que assistimos é assustador. No entanto, será que no Brasil a realidade é diferente? Ou melhor, será que no Brasil, não há ódio interracial? Vejamos alguns dados que demonstram a nossa realidade.

Apesar de termos uma expressiva população negra no Brasil, estimada em 51% da população, somando pretos e pardos, estudos apontam que somente teremos equidade salarial em 127 anos, ou seja meados dos anos 2137. Em 2010 um estudo sinalizou que dentre as mortes por homicídio no país, 75% eram negros. Dos cerca de 16 milhões de brasileiros em situação de extrema pobreza em 2012, 65% eram negros.  Negros representam somente 5,3% no quadro executivo das grandes empresas, 5% dos políticos no Congresso Nacional.

Se estratificarmos o IDH brasileiro em brancos e negros, veremos que o país dos brancos teria índices similares a países europeus, enquanto o país dos negros teria dados extremamente similares aos dos países mais pobres do mundo.

Segundo o site “O Mundo Negro” na TV Globo, nos últimos 20 anos, só 10% dos personagens eram pretos ou pardos, segundo levantamento da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). E só 5% foram protagonistas. Além da ausência na TV, no cinema e nos concursos de Miss, onde apenas em edições vimos candidatas negras vencendo, poderíamos pensar que é um avanço. Será? Acredito que não, afinal já foram realizadas 61 edições do concurso.

Ou seja, o cenário no Brasil por vezes me parece até mais desafiador do que o dos Estados Unidos quando falamos de equidade racial. Simplesmente porque em um país no qual estas questões estão latentes, a sociedade é obrigada a encarar a realidade. Há conflito, mas é possível buscar uma solução. No caso do Brasil, país em que as pessoas se dizem abertas à equidade racial, por outro lado, não conseguimos ver com clareza a violência que ocorre todos os dias e há centenas de anos com a população negra.

No Brasil, por vezes, me parece que nem a própria população negra tem clareza dos dados e da violência cotidiana a qual é submetida. É como se houvesse um extremista Ku Klux Klan velado e escondido em cada um de nós. Em cada brasileiro.

As boas notícias, são que a conscientização da população tem se ampliado cada vez mais. Que o tema está na pauta e vigente. E o futuro? Como eu já disse antes, certamente para termos um futuro diferente, precisamos construir hoje um presente diferente. Saber que não estamos em um país com equidade racial, mas que podemos, com empenho, dedicação e ações direcionadas, construir um país realmente igual em oportunidades para todos, esse certamente é o primeiro passo. Que tal comerçarmos hoje esta caminhada?


*Liliane Rocha é diretora executiva da Gestão Kairós – consultoria especializada em Sustentabilidade e Diversidade. Autora do livro “Como ser um líder Inclusivo”. Mestranda em Políticas Públicas pela FGV, MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade na FGV, Especialização em Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral, MBA em Coaching pela Sociedade Brasileira de Coaching, graduada em Relações Públicas na Cásper Líbero. 


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