quinta-feira, 7 de junho de 2018

Siraque: "deveria ter saído do PT no fim da campanha de 2008"

Por Vitor Lima

Vanderlei Siraque tentará assegurar novamente uma cadeira na Assembleia Legislativa nas eleições deste ano, desta vez pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Siraque, 58 anos, é natural de Santa Cruz do Rio Pardo, interior de São Paulo. Começou a militar na política ainda jovem, aos 16 anos. Em Santo André, teve atuação importante em comunidades de jovens e no sindicalismo dos bancários, onde começou a ganhar notoriedade.

Elegeu-se a um cargo público pela primeira vez em 1988, aos 28 anos, quando foi eleito para a Câmara andreense pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Pela sigla, venceu mais dois pleitos como vereador (1992 e 1996) e foi presidente da Casa, para depois emplacar três mandatos como deputado estadual (1998, 2002 e 2006) e um como deputado federal (2010). Tentou reeleger-se em 2014, mas seu projeto sucumbiu.

No meio desta trajetória, em 2008, disputou a Prefeitura de Santo André pelo PT, após vencer prévias internas no partido. Perdeu para o então vereador Aidan Ravin no segundo turno, após obter 49% dos votos válidos na primeira etapa eleitoral.

“Foi uma tragédia”, o próprio afirma sobre aquela eleição. De lá para cá Siraque viu seu espaço diminuir brutalmente dentro do PT. Em maio do ano passado, o ex-parlamentar entregou a carta de desfiliação ao partido e migrou para o PCdoB, sigla que lhe abrigou e lhe dará suporte ao projeto de eleger-se novamente deputado estadual.

Em outubro, Siraque estará nas urnas pelo PCdoB | Foto: Vitor Lima
Siraque se diz grato ao PT, defende a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ataca a cúpula do partido em Santo André. Em conversa com a reportagem do Ponto Final em 6 de junho, o pré-candidato comentou as prioridades de um possível novo mandato, ressaltou a importância da regionalidade e atacou as últimas gestões da Prefeitura de Santo André. Confira:

Ponto Final (PF): Na sua opinião, quais as principais demandas do ABC?

Vanderlei Siraque (VS): Nós temos que mudar a forma de administrar a região. Nós temos que voltar ao projeto do Celso Daniel, que é a minha inspiração política. Nós temos que unir as sete cidades do ABC e trabalhar projetos de desenvolvimento em conjunto, de infraestrutura em conjunto, reivindicações junto ao governo do Estado e Federal em conjunto. Eles (os atuais gestores) trabalham de forma isolada. Nós temos de fortalecer o Consórcio de municípios e fortalecer a Agência de Desenvolvimento Econômico. Os vereadores e deputados da região também devem trabalhar unidos.

PF: O que o senhor defende não acontece atualmente. Diadema já deixou o órgão e informações indicam que existem articulações para que outras cidades saiam. Como o senhor vê este momento do Consórcio?

VS: O Consórcio não tem uma liderança regional. Celso Daniel foi uma liderança. Na ideia dele, tem que ter projeto regional, de desenvolvimento econômico e social da região. E você tem que trabalhar o consenso progressivo. Não é uma questão de minoria ou maioria. Aqui os prefeitos olham cada um para o seu próprio umbigo, não conseguem ter uma visão estratégica regional.

PF: Por vaidade, projetos políticos pessoais? 

VS: 
Não, por falta de conhecimento mesmo. Não é maldade, vaidade, é falta de conhecimento em políticas públicas. Falta de preparação e espírito de estadista.

PF: Caso eleito, quais serão as principais bandeiras defendidas por seu mandato?

VS: O que eu tenho como prioridades gerais são dois setores: Segurança Pública e, na área de desenvolvimento, o setor Químico, Petroquímico e Plástico.

PF: Pesquisa do Ipea divulgada na terça-feira (5) indica que pela primeira vez na história o Brasil atingiu patamar de 30 homicídios por 100 mil habitantes. Alguns candidatos são a favor da liberação do porte de armas. Como o senhor vê essa questão?

VS: Sou totalmente contrário.

PF: Por quê?

VS: Porque a maioria dos homicídios são causados por armas de fogo. E as pessoas não são preparadas para isso (para portar armas). A maioria dos crimes que acontecem, entre aspas, com as 'pessoas de bem' são crimes passionais, com amigos, com vizinhos, dentro da própria casa, em brigas de bares e de trânsito.

PF: Diante disso, qual diretriz deve ser seguida para mudar este número de homicídios elevado?

VS: Primeiro lugar nós temos que ter uma cultura de paz, uma cultura da não-violência, de valorização da vida. Investir em educação, empregos, na inclusão social, em políticas públicas de gênero e trabalhar a polícia técnica-científica.

PF: Atualmente, o ABC conta com apenas quatro representantes na Assembleia Legislativa e dois no Congresso Nacional. Em outras oportunidades, nossa região já teve números mais expressivos. O baixo número de representantes da região demonstra um descontentamento dos eleitores com os políticos do ABC?

VS: Penso que os deputados se elegem e só aparecem durante o período eleitoral. Isso é ruim. E, também, por falta de visão. As pessoas se elegem, fazem a disputa política, mas não têm projeto. As pessoas não têm conhecimento. Quando eu falo da indústria Química, Petroquímica e Plástica, por exemplo: metade da arrecadação de Santo André vem do setor químico. Em Mauá, 70%. Não estou falando que este setor é importante. Ele é essencial.

Siraque foi parlamentar por sete mandatos
consecutivos pelo PT | Foto: Arquivo
PF: O seu partido tem uma pré-candidatura posta à Presidência da República com a Manuela D'Ávila. No campo progressista, a gente vê o Ciro Gomes trocando farpas com o PT. E ela, entre os pré-candidatos, é a que tem o discurso mais defensor da união da esquerda. O senhor defende que ela leve a candidatura até o fim ou que esquerda se una já no primeiro turno?

VS: Ela pode ser, inclusive, a unidade da esquerda. Eu defendo que o campo progressista, denominado de centro-esquerda, deveria se unir. Acho que deveríamos ter um esforço para que o Lula possa ser o candidato deste campo. Agora, o Lula não sendo o candidato eu penso que deveríamos trabalhar em uma única candidatura. Este é o meu pensamento do ponto de vista estratégico.

PF: Então, se fosse para o senhor definir, haveria um único candidato da esquerda e esse candidato seria o Lula?

VS: O Lula é unanimidade. Todos apoiam.

PF: A prisão dele foi justa?


VS: Não. Até porque é inconstitucional. Do ponto de vista do direito constitucional deveria ter sido transitado e julgado (em todas instâncias) e não transitou.

PF: É uma prisão política?

VS: Não acho que é política, acho que é um entendimento jurídico equivocado.

PF: O senhor deixou o PT em maio do ano passado, após viver praticamente toda sua militância dentro do partido. Há pouco tempo, o Montorinho, outro quadro importante do partido na cidade, também deixou o partido. Por que essas lideranças têm deixado o PT?

VS: Eu sou muito grato ao PT, mas em Santo André não dava. Em 2008, setores do PT não me apoiaram no segundo turno, então já começou lá, com uma grande sabotagem. Eu fui aguentando por uma questão de coração, de paixão, mas racionalmente eu deveria ter saído já no final da campanha para prefeito em 2008. Porque foi muito duro. Tem um grupo de pessoas que não é partidário, são grupos políticos, econômicos, que trabalham com contratos da administração, com setores da imprensa, com prestadores de serviços públicos.

Independente de partido. Por acaso o Paulo Serra era secretário do PT, o principal secretário da administração do PT. É algo estranho. Eu não saí do PT, o PT me tirou.

PF: Por que isso ocorre? Ganância pelo poder?

VS: Ganância pelo poder, projeto pessoal, falta de ética. Esse grupo se espalha muito. É o grupo que acabou com os sonhos de mudança da sociedade. O PT foi muito importante para minha vida, mas esse grupo afundou o PT.

PF: Como o senhor avalia gestão do prefeito Paulo Serra?

VS: Vai se repetindo as últimas três gestões da cidade. Ela não mudou nada em relação as gestões do Aidan (Ravin), do (Carlos) Grana. Não se trata de questão pessoal, mas ela (a gestão) tem dificuldade de planejamento, como é em São Bernardo, São Caetano... não tem projeto para a cidade, planejamento estratégico. Pode ter planejamento de poder, mas não tem para a cidade. Eu sinto que as pessoas pensam 'quero ser prefeito', 'quero ser vereador', 'quero ser secretário'. Mas as pessoas são nomeadas e não têm um plano. A pessoa está na Secretária de Obras, passa para o Meio Ambiente, passa para o Desenvolvimento e depois para Educação, por exemplo. Eles chegam no governo sem um plano.

PF: O senhor pretende concorrer novamente à Prefeitura? 

VS: Está cedo. O PCdoB terá um candidato a prefeito em 2020. Eu pretendo ser deputado estadual. A eleição de prefeito me marcou muito, pessoalmente foi uma tragédia. Eu fui detonado pelos falsos companheiros do PT. Saí daquela eleição muito machucado. Eu não queria disputar mais nada, tanto é que desisti de ser candidato de novo (para prefeito), porque eu não queria briga. E deu no que deu. Uma gestão muito medíocre, foi um desastre para a cidade.

Mesmo agora, esse negócio de aumenta IPTU, tira IPTU, fecha posto de saúde, abre posto de saúde... tem que ter planejamento, responsabilidade fiscal. Não estou falando de partido, porque aqui as últimas três (gestões) estão sendo iguais. Muda as pessoas, mas os métodos políticos são iguais.

Obs.: Espaço aberto a todos os pré-candidatos aos cargos eletivos de 2018. Interessados em apresentar suas ideias e propostas aos leitores do Ponto Final devem entrar em contato pelo e-mail: redacao@pfinal.com.br. 





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