segunda-feira, 16 de julho de 2018

Água. Uma nova crise se aproxima.

A estiagem volta a fazer estragos em vários estados do País. Em São Paulo, a Cantareira voltou aos níveis da crise de 2014. Por que não mirar em boas iniciativas que são feitas aqui, na iniciativa privada, e lá fora, em nível governamental?

Cantareira. Foto de F. Carvalho. Fotos Públicas.
No último mês, o Ministério da Integração Nacional reconheceu a situação de emergência por conta da estiagem em 184 municípios de sete estados - Minas Gerais, Bahia, Paraíba, Piauí, Ceará, Goiás e Pará. Ao mesmo tempo, a cidade de São Paulo voltou a se assustar com o fantasma da seca de 2014.

No final de junho, o reservatório voltou ao estado de atenção com 44% da sua capacidade (sem considerar a reserva do volume morto). Em 2013, ano que antecedeu a crise hídrica de 2014, a Cantareira contava com 61,5% da capacidade. Há um ano, o estoque era de 67% Essas faixas de atenção foram adotadas desde a crise. Elas correspondem à capacidade do volume do sistema, a saber: Normal: mais de 60%, Atenção: entre 60% e 40%, Alerta: entre 40% e 30%, Restrição: entre 30% e 20%.

O cenário pode ficar ainda pior porque, segundo a Climatempo, não há sinal de chuva nos próximos dias. Mas será que o problema é mesmo só a falta de chuva? Porque existem países com recursos hídricos inferiores ao nosso e este problema está praticamente resolvido? E qual é a solução?

De acordo com o engenheiro Fernando Pereira, diretor comercial da General Water, concessionária particular de água, depender da chuva ou buscar novas fontes de água para abastecer lugares distantes, como em geral ocorre, não são as melhores alternativas. “Existem soluções mais viáveis. Hoje, há tecnologia suficiente para tratar o esgoto para reutilização, inclusive para consumo humano”, diz a Pereira. "Especialistas do mundo todo enxergam o esgoto não como um resíduo, mas sim uma fonte de água. A crise seria uma oportunidade de resolver o problema do abastecimento e despoluir os nossos rios, que hoje recebem todo esse dejeto”, afirma.

Como é feito no mundo
Exemplos de países que reutilizam a água não faltam. Em Cingapura - um dos países com maior risco de escassez hídrica do mundo e dependente da vizinha Malásia – o governo vem investindo desde 1998 em tecnologias de reúso e reciclagem de água. Hoje, o país tem dois sistemas separados para coletar água da chuva e água usada. Isso tornou Cingapura um dos poucos países do mundo a colher água de chuva urbana em grande escala para o abastecimento de água. Atualmente, o país tem quatro fontes principais de água – captações locais, água importada, água reciclada e água dessalinizada. As duas últimas fontes poderão fornecer até 80% das futuras necessidades de água do país. Hoje elas correspondem a 50%.

Na Namíbia, onde o clima é desértico, a capital, Windhoeke, desde 1968 utiliza o reúso de água de esgotos para o abastecimento da população. Windhoek tem uma população de 380 mil habitantes e encontra-se a 300 km do oceano Atlântico e o rio perene mais próximo está a 700 km. Secas ocorrem com regularidade, o que motivou a iniciativa, uma vez que a dessalinização e o bombeamento de água não seriam opções econômicas.

Israel é outro exemplo importante. Desprovido de recursos naturais, incluindo a água, o país lança mão da tecnologia para garantir o abastecimento de água potável à população e desenvolver a agricultura. Hoje, 40% da água consumida no país é retirada do mar, por meio do processo de dessalinização e 72% é reutilizada. O recurso é captado de esgotos e serve para irrigar as plantações por meio de gotejamento, inovação criada no país anos 1960. A capacidade israelense para reutilizar água corresponde à maior taxa de reaproveitamento hídrico do mundo, acompanhada pela Espanha com 12%.

E no Brasil?
Por aqui, o reúso da água é feito principalmente por empresas privadas. Em grande escala, no Brasil, as águas residuais não são aproveitadas como deveriam porque não há legislação específica sobre o tema. Em geral, as saídas encontradas para suprir a água são transposições, algo não sustentável a médio prazo, como é feito no sistema Cantareira.


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