Por Vivian Silva
Desde o fim de março, a região do ABC conta com um novo comandante da Polícia Militar (PM), o coronel Paulo Henrique Fontoura Faria, 49 anos, que está na corporação há 32 anos. Ele assumiu o Comando de Policiamento Metropolitano de Área 6 (CPA/M-6), no lugar do coronel Marcelo Cortez Ramos de Paula, que ficou responsável pela área por pouco mais de dois anos.
Com mais de 2,7 milhões de habitantes, o ABC tem um efetivo de aproximadamente 3.100 policiais, que contam também com sistemas inteligentes no combate à criminalidade. Além disso, há ações direcionadas, conforme o período do ano e aumento no número de circulação de pessoas, por exemplo, em eventos como o Festival de Paranapiacaba.
Em entrevista exclusiva ao Ponto Final, Faria explica que o seu papel como comandante é ser um “facilitador” no trabalho dos tenentes-coronéis, que atuam no ABC, e demais órgãos que queiram fomentar a segurança no local. Ao todo, há seis batalhões na região que atendem os sete municípios, que compõem o ABC.
Na prática, caso algum município precise, por exemplo, de uma ação conjunta de unidades especializadas que estão sediadas em São Paulo, como regimento de cavalaria e tropa de choque, esta ação será coordenada pelo CPA/M6.
|
Coronel comenda as ações da Polícia Militar no ABC | Foto: Divulgação |
“A finalidade como um todo é manter o controle dos indicadores criminais, aumentar cada vez mais a nossa produtividade e, com isso, conseguir alcançar a tão desejada sensação de segurança, para a população aqui da região do ABC”, explica Faria.
Atualmente, está em vigor a operação chamada 100 Dias em todo estado de São Paulo. De acordo com o comandante, o objetivo é coibir crimes violentos (homicídios e latrocínios) e diminuir o número de roubos de modo geral.
Durante a entrevista, o comandante comentou sobre alguns indicadores da Secretária de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, ações da PM e reiterou que propiciar “sensação de segurança” aos cidadãos é um dos objetivos da corporação. A seguir os principais pontos da conversa.
Ponto Final (PF) - Qual é a maior dificuldade que o senhor enfrenta à frente da corporação?
Coronel Faria (CF) - É difícil falar qual é a maior, cada município tem sua característica, então, no planejamento eu ouço os meus comandantes de batalhões, os planejamentos são deles, eu estou aqui para dar o suporte, eventualmente, dar um apoio, uma orientação, são sete municípios que apesar de você estar nesta malha desta macrorregião do Grande ABC, cada município tem suas características que vão gerar o seu tipo de crime. Mas o nosso desafio como um todo é manter os indicadores sob controle, cumprir as nossas metas e, com isso, propiciar à população a sensação de segurança naquilo que nos compete que a atuação da polícia ostensiva e preventiva.
PF - Em março deste ano, dados do Boletim Tracker-Fecap mostram que Diadema, seguida de São Bernardo do Campo e Santo André estão entre os dez municípios de São Paulo com o maior número de roubos de motos. Como reverter estes dados?
CF - Na região como um todo nós tivemos 6,61% de redução dos roubos dos veículos no primeiro trimestre. O crime migra e nessa migração com o nosso sistema inteligente, nós vamos acompanhando. A Cavalo de Aço é uma operação efetiva específica para fiscalização de motocicleta, porque a motocicleta é muito utilizada pelo fácil deslocamento, fuga e tem a questão do capacete, que não permite a identificação do condutor.
PF - Houve um aumento no número de furtos de veículos em Santo André no 1º trimestre de 2017, em comparação com o mesmo período do ano passado (Dados SSP: 1.125 em 2017 e 824 em 2016). A implantação do Detecta ocorreu justamente por esse aumento?
CF - Sim, o Detecta funciona em São Paulo. É muito bom! Em Santo André já está funcionando como teste. É um sistema intercalado de câmera com certas características técnicas, mas há um consenso que é uma ferramenta boa.
Estima-se que nós temos uma frota de 1,7 milhão de veículos aqui no ABC, muitos dos municípios estão se verticalizando, o que a gente percebe é que não tem lugar para colocar os carros, então, principalmente o furto aumenta, diante disso, nós estamos fazendo ações e operações. Nós temos sistemas inteligentes, então, quando nós verificamos que há algum problema, nós atuamos naquele local específico, naqueles horários específicos.
PF - Há diálogos para que o Detecta seja implantando nos demais municípios da região?
CF - Não sabemos, vai depender muito de cada prefeitura.
PF - O número de estupros também aumentou em Santo André, neste primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado (Dados SSP: 35 em 2017, 25 em 2016). O senhor pode comentar este aumento?
CF - O estupro tem várias questões. Nós fizemos aqui uma análise, nós tivemos 35 casos registrados, destes 35, 21 foram estupros de vulneráveis. Foram crianças que estavam sob a guarda de maiores ou responsáveis, então, é um tipo de delito difícil de se prevenir. Tivemos também dois casos de vítimas que foram estupradas depois de um consumo exagerado de bebida alcoólica. Tivemos um caso de uma vítima, que após conhecer alguém pela rede social, no primeiro encontro foi violentada. Alguns casos de estupro são de difícil prevenção, em virtude do ambiente onde acabam ocorrendo e seis foram em vias públicas. Quatro inclusive foram solucionados, os infratores reconhecidos e indiciados Mas nós monitoramos, acompanhamos e mantemos também um policiamento e intensificamos o patrulhamento nessas áreas.
PF – Quais dicas o senhor pode dar para a mulher se prevenir deste crime?
CF - Cuidado com redes sociais, antes de marcar um encontro sozinha com um desconhecido, se certificar de quem é a pessoa, se for marcar um encontro sempre em local público, onde há muitas pessoas. Não tomar carona com pessoas desconhecidas ou pessoas que conheceu numa festa; cuidado com consumo de bebidas alcoólicas, quando for consumir bebidas alcoólicas nunca deixar o copo a vista, se deixar, descartar aquele copo com a bebida, para evitar que alguém coloque alguma substância.
PF – Como funciona a reciclagem do policial e como é trabalhado o estresse e as condições psicológicas deste profissional?
CF – Nossa tropa é constantemente treinada, sempre foi uma preocupação, por ano, ela é obrigada a passar pelo estágio de aprimoramento profissional, que inclui o teste de aptidão física e o teste de aptidão de tiros. Temos até neurolinguística também. Além disso, há cursos de especialização (policiamento com bicicletas, choque, etc.) que são feitos em São Paulo. Nós temos os Naps - Núcleos de Atenção Psicossocial, quando nós verificamos que o policial passou por uma ocorrência de gravidade, ele é avaliado, por psicólogos e muitas vezes afastado.
PF - Como o senhor avalia as armas que são usadas pelos policiais militares? Há muitas críticas em relação à Taurus (marca de armas usada pela corporação).
CF – Ela é adquirida conforme a legislação vigente e se der problema nós mandamos a arma para o órgão competente da polícia militar, o Centro de Suprimento de Material Bélico, que fará a perícia, avaliação e a substituição. Agora foi aberta uma licitação internacional, que está em andamento, mas quando você fala em licitação internacional, as indústrias brasileiras também podem participar e você sempre vai escolher o modelo melhor.
PF - Como tem sido a relação com os prefeitos e secretários de Segurança das prefeituras do ABC?
CF - Já conversei com todos. Ontem (16 de maio) mesmo fizemos uma operação em Mauá, estava lá a polícia militar e a guarda municipal de Mauá, de trânsito, então, nós temos um calendário de operações e nós fazemos operações, inclusive, conjuntas com o poder público municipal.