sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Alunos ocupam prédio da Fundação Santo André

Por Vitor Lima

Desde a noite de ontem (10), estudantes ocupam o prédio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FAFIL), na Fundação Santo André (FSA). O que gerou o descontentamento entre os jovens foi o anúncio do aumento de 6,5% nas mensalidades a partir de janeiro. Além de barrar o aumento, os alunos reivindicam o pagamento de salários atrasados a professores e funcionários e negociação com os estudantes inadimplentes.  

Barricadas com carteiras e cadeiras foram feitas nas entradas do prédio | Foto: Vitor Lima 
A reportagem do Ponto Final esteve na ocupação na madruga de hoje (10) e conversou com os jovens. Eram cerca de 30 alunos que, por volta da 1h30 da madrugada, ainda estavam acordados preparando faixas e cartazes com suas reivindicações. O clima era tranquilo e não havia viaturas da Guarda Civil Municipal tampouco da Polícia Militar.

Pautas 

Como já exposto, o grupo trabalha com três pautas imediatas. Contudo, as reclamações não param por aí: o coletivo protesta também contra o sucateamento dos cursos de Humanas e contra a mercantilização da instituição. 

Um dos cartazes que estavam sendo preparados na madrugada de quinta (9) para sexta-feira (10) | Foto: Vitor Lima
Três representantes dos jovens conversaram com a reportagem: Everton Gregorio da Silva, 21 anos, estudante do segundo ano de Geografia; Rafael “Magrão”, 32, discente do terceiro ano de geografia; e a aluna identificada apenas como Rafaeli, 19, aluna do segundo ano de Ciências Sociais. 

“O que gerou a ocupação foi que a reitoria de forma autoritária aumentará a mensalidade em 6,5%. Esse valor é incabível para o trabalhador”, protesta Silva. 

Jovem descansava durante a madrugada no pátio do prédio | Foto: Vitor Lima

Rafaeli conta que no ano passado já houve um aumento agressivo – cerca de 8%, de acordo com a jovem, que lembra que a FSA também reduziu o desconto para os alunos adimplentes. “Todo ano tem aumento, os aumentos são brutais. E mesmo assim os professores não recebem dissídios há dois anos, não receberam 13° e muitas vezes eles recebem o salário picado durante o mês”, diz. 

Reunião 

Outro fator que torna a situação ainda mais delicada, é que o prédio ocupado é um dos locais que receberão, no próximo domingo (12), o segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Está previsto para daqui a pouco, às 19h, uma reunião entre os alunos e a reitoria para buscar uma solução para o impasse. Contudo, a posição dos alunos parece clara: enquanto as pautas não forem atendidas, eles não deixarão o prédio. “O movimento estudantil não vai recuar", garante Magrão. 
Universitários não aceitam o aumento de 6,5% nas mensalidades | Foto: Vitor Lima

Mudança de estratégia

De acordo com os jovens, a assembleia optou pela ocupação após avaliar que os outros meios de pressionar a reitoria são ineficientes. Os estudantes lembraram que em 2016 buscaram a direção da universidade de diversas formas para barrar o aumento, todas sem sucesso. Por isso, neste ano, eles adotaram uma postura mais “radical”. 

“Uma coisa que revolta bastante é que todo ano a reitoria impõe o aumento nessa época, próximo da semana de provas”, comenta Rafaeli. Na avaliação dela, isto é uma estratégia para desmobilizar os estudantes, que estão sempre “pilhados” com as avaliações. 

Foto: Vitor Lima
Apoio dos demais 

Os estudantes revelam que têm buscado o apoio dos demais estudantes e professores, de todos os outros cursos, para fortalecer o movimento. “É importante que os estudantes dos outros cursos e professores que não estão aqui, saibam que nós estamos lutando por eles”, ressalta Silva; Magrão segue o mesmo discurso: “A gente colocou em pauta e votou na assembleia que o salário dos professores sejam regularizados. Uma assembleia que foi majoritariamente de estudantes votou uma pauta e uma demanda dos professores”, comenta, para justificar o discurso em prol da união. 

Prefeitura e reitoria são alvos

Aos serem questionados sobre quais são os culpados pelo momento delicado da instituição, os jovens são unânimes. A maior culpada, na visão deles, é a Prefeitura de Santo André, que há tempos não faz repasses para a instituição – existe uma briga judicial que se arrasta há anos sobre o assunto. A reitoria, por sua vez, é acusada de ser “omissa” sobre o assunto. “A reitoria se nega a cobrar a Prefeitura. Existe um rabo preso”, ataca Magrão, ao lembrar que quem indica o reitor da instituição é o Poder Executivo da cidade. Leila Modanez é a atual reitora da instituição.

“O projeto dessa universidade é totalmente pedagógico, é feito justamente para abastecer os trabalhadores da região de conhecimento e fazer com que a região cresça. A fundação foi fundada desta forma. Ela não deveria ter uma demanda mercantilista”, conclui o mais velho dos representantes. 

Outro lado

A reportagem procurou a Fundação Santo André, mas até o momento a instituição não emitiu nenhum posicionamento sobre o assunto.



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