quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Por que voto nulo

Por Gilberto Natalini*

O segundo turno da eleição presidencial de 2018 não tem precedentes. Pode significar o fim da Era Lula da Silva/Dilma Rousseff/Michel Temer (2003 – 2018), marcada pela corrupção, e ao mesmo tempo trazer sérios riscos de retrocesso à democracia e à ampla liberdade, garantias que permitem expressar opiniões e criticar o presidente da República, por exemplo, sem medo de sofrer retaliações.

Por traz da fala mansa do candidato Haddad, espécie de laranja de Lula da Silva, os velhos caciques do PT estão dispostos a pôr em prática uma receita que o Brasil conhece bem e está farto – responsável por 13 milhões de desempregados e outros 62 mil assassinatos por ano. Representante do presidiário de Curitiba, Haddad manteria a fórmula surrada de alianças com o chamado Centrão e a distribuição de cargos estratégicos, por meio dos quais os políticos continuariam a roubar os recursos que deveriam financiar o desenvolvimento do país. Voltariam todos a se organizar para assaltar o Estado. A eleição de Haddad seria mais do mesmo.

Já o candidato Bolsonaro é um salto no escuro. Isolado, sem alianças, o ex-capitão do Exército, um deputado inexpressivo, mostra seu despreparo ao fugir dos debates. Quase não tem o que dizer. Esconde-se, protegido pelas redes sociais e seu exército de disseminadores de fake news. Além disso, Bolsonaro instiga ódio, violência, intolerância e é capaz de idolatrar sujeitos como o ex-coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um assassino que prestou "serviços" ao regime militar (1964 – 1985). E não adianta defendê-lo – eu sou uma de suas vítimas, prova viva de que Ustra torturava pessoas sequestradas e presas ilegalmente nos porões da ditadura. Torturou-me em 1972. Fiquei com deficiência auditiva permanente.

O Brasil está encalacrado. Candidato do sistema, Haddad não teria alternativa a não ser baixar a cabeça e dar guarida aos privilégios que fazem do Brasil um país injusto, desigual e subdesenvolvido. Não passaria de marionete, uma Dilma Rousseff sem saias, dependente do apoio político do chefe e, por isso mesmo, pronto a obedecê-lo, mesmo que as ordens agora venham da cadeia.

Por sua vez, Bolsonaro está longe de possuir as credenciais e qualidades de um chefe de estado, como o Brasil tanto precisa. Após 50 anos de luta pela democracia, constrangido e ciente da reação emotiva do eleitorado contra os malfeitos perpetrados pelo PT, tomei minha decisão: voto nulo.

Não tenho dúvidas de que chegamos a essa difícil quadra da vida política brasileira graças às lambanças promovidas pelos governos do PT. Agora, independentemente do resultado final da eleição, caberá às forças democráticas a firme defesa das instituições e das conquistas sociais, ameaçadas por duas candidaturas extremas que, por ironia, se tornam semelhantes em seus radicalismos. Nós, democratas, não deixaremos o Brasil retroceder para uma ditadura, seja de esquerda ou de direita.

*Gilberto Natalini, 66, vereador (PV-SP), foi secretário do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo



Nenhum comentário:

Postar um comentário