quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Não temos o direito de ser ingênuos

* Por Tarcisio Secoli, economista e secretário de Serviços Urbanos da Prefeitura de São Bernardo do Campo 

O Brasil era em 2011 a sexta maior economia do mundo. Este ano devemos cair duas posições. Mas ainda continuamos grandes. À essa grandeza, de mercado interno, dimensões continentais e riquezas à espera da descoberta, impõe-se responsabilidade. Atraímos a atenção do mundo com ações que passaram da formulação de políticas sociais para milhões de pessoas à tentativa de institucionalização de um gravíssimo golpe contra a democracia, urdido, tramado, capitaneado e orquestrado por decisões (menores, revanchistas e chantagistas) de “aliados”.

Precisamos rechaçar o pragmatismo do vale-tudo. Da mais nova moeda de troca, o impeachment. Com todas as letras, não ao golpe. Sofri a repressão militar por lutar por essa abençoada democracia, para votar, para eleger o presidente do Brasil. Destituir, sem motivos legais, uma presidente eleita pelo povo é abdicar do direito de escolha.


Isso é sério. É abrir precedentes que remontam em nossa história ao golpe militar de 1964. Por isso, a situação é urgente. Independentemente de ideologias, deram início a um processo para derrubar a democracia, para levar no tapetão e afrontar o Estado Democrático de Direito pelo qual brasileiros foram mortos, torturados e desaparecidos.

Tem um ditado muito antigo: “quem cala, consente!”. Como escreveu o vice-presidente, as palavras voam, tanto quanto a escrita revela sentimentos profundos, escamoteados durante anos.
Tenho lido muita coisa na imprensa e me pergunto: como, esse que já foi considerado o quarto poder, escreve em suas páginas cristalinamente a chantagem feita a um presidente da República, a barganha pela governabilidade? Perdeu-se a vergonha de ser imoral.

Todo poder emana do povo, diz a Constituição Brasileira. E o povo fez a sua escolha. Goste ou não, isso não é razão para arquitetar um processo de impedimento que a cada ação executada pelo presidente da Câmara dos Deputados se revela uma trama sórdida contra a democracia.

Voltaremos à rua em sua defesa. Entidades da sociedade civil, sindicatos, juristas, partidos políticos, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), CUT, governadores de Estado e estudantes ocuparão as ruas e avenidas, até chegar em Brasília.

Reafirmo: apesar da crise que o capital mundial atravessa, a situação brasileira sofre mais os reflexos políticos do que econômicos. No Brasil, vivemos sob o regime presidencialista. Esse sistema exige do presidente da República maioria na Câmara e no Senado para governar. O mesmo vale para prefeitos e governadores.

Essa maioria é obtida por meio de um governo de coalizão, no qual partidos aliados indicam quadros na administração. Quando não há harmonia entre as legendas, tudo vira crise. E a economia trava.
O erro do governo é não ter conseguido fazer com que o diálogo refaça laços e mantenha compromissos para romper essa letargia que contamina a indústria a despeito do que o Executivo faça.

Nós, brasileiros, não podemos ser ingênuos a ponto de ignorar, por exemplo, interesses econômicos em jogo no meio desta crise. Devemos cumprir o nosso papel, assumir as responsabilidades e nos posicionarmos contra o impeachment, que tem na decisão do ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), o primeiro raio de lucidez (mesmo que em caráter liminar).
A política deve ser tratada com P maiúsculo, com P de Povo, de Progresso e de País.


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