Por Vitor Lima
Nilson Bonome, 44 anos, é uma figura conhecida dos moradores do ABC, especialmente aos mais atentos ao cenário político regional. Após anos no MDB, Bonome migrou ao PRB, no início deste ano, para se candidatar-se a deputado federal.
Natural de Mauá, Bonome já esteve nas urnas em outras ocasiões, sem sucesso. Sua trajetória é lembrada, principalmente, devido a sua atuação nos governos de Aidan Ravin (2009-2012), em Santo André, e Paulo Pinheiro (2013-2016), em São Caetano do Sul.
Em ambas ocasiões, Bonome era um dos membros mais poderosos dos governos e fazia parte do clã responsável pelas principais tomadas de decisões nas gestões. Ganhou o
status de “super secretário”: em Santo André, chegou a ocupar três pastas, simultaneamente; em São Caetano, passou por seis secretarias. Nenhum dos governos conseguiu a reeleição, mas Bonome continuou prestigiado nos bastidores políticos e passou por outros cargos públicos.
|
Bonome concorre a deputado federal pelo PRB | Foto: Divulgação |
O último deles foi na cidade de Paulínia, interior de São Paulo, onde o candidato teve rápida passagem (cerca de seis meses) pelas Secretarias de Administração e Turismo. Mesmo com o curto período, Bonome avalia como positiva a passagem pelo município e afirma que deixou um “grande legado”, com o destravamento de obras importantes.
O postulante à Câmara recebeu a reportagem do
Ponto Final em seu escritório político, em Santo André, na última segunda-feira (13), para adiantar seus planos para um possível mandato. Entre outros assuntos abordados, Bonome foi contra o discurso da maioria dos candidatos da região e defendeu a extinção do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. Um órgão desnecessário e ineficiente, na opinião do candidato. A “educação cultural” e o resgate de valores familiares serão as prioridades de Bonome, caso eleito.
Sobre os insucessos eleitorais nos planos de reeleição nos governos em que participou, em Santo André e São Caetano, Bonome crê que não teve responsabilidade direta nos maus resultados. Pelo contrário. No caso andreense, ele avalia que o governo não se reelegeu, justamente, pelo fato dele ter saído da administração de Aidan, no último ano de mandato. Em São Caetano, ele comenta que a gestão de Pinheiro era “péssima” e que só melhorou após sua chegada. Confira:
Ponto Final (PF): Caso eleito, quais as principais bandeiras do seu mandato?
Nilson Bonome (NB): A principal bandeira é a educação cultural. Acho que o cidadão precisa ter uma educação cultural no sentido de preservar a vida, preservar os bons costumes. A questão da educação perdeu várias ações que se antigamente se faziam nas escolas, como por exemplo, cantar o hino nacional na entrada. É fundamental que a gente faça um trabalho de reconciliação da família.
PF: Uma questão comportamental, então.
NB: Exatamente.
PF: E como o senhor fará isso? Por meio de projetos, de debates?
NB: Olha, em um primeiro momento por meio de debates e depois por meio de projetos. Até porque tem algumas ações que se perderam ao longo do tempo, e que não tinha nenhuma lei que obrigava. Por exemplo, essa questão cultural que estou dizendo. Não é uma questão obrigatória a criança cantar o hino nacional, mas era um bom costume que se tinha. Dava muito certo. Não é só pelo hino, o que eu estou querendo dizer é uma questão cultural. Bons costumes. Uma criança que prática esportes depende menos de remédio, uma criança que tem uma alimentação saudável, depende menos de remédio. Uma criança que tem uma cultura diferenciada, ou seja, uma educação mais aprimorada, ela precisa de menos segurança, porque provavelmente nós não vamos perder ela para as drogas, para criminalidade. É este tipo de bandeira que eu quero defender, a reconciliação da família.
PF: Todas as prefeituras do ABC estão com grandes dificuldades de investimentos. O senhor tem andado pelo litoral, pelo interior também. Caso eleito, o seu foco será o ABC para a destinação das emendas?
NB: Eu vou priorizar o ABC. Aqui é o meu quintal eleitoral, mas eu serei deputado do Estado de São Paulo e do País. Portanto, aonde houver a necessidade nós vamos dar a devida atenção.
PF: Alguns candidatos têm defendido a questão da regionalidade com muita força e dizem que, se eleitos, destinarão todas as emendas para o ABC. Então, este não será o seu caso?
NB: Eu diria que 90% das minhas emendas parlamentares serão para o ABC. Mas, por exemplo, a cidade de Aparecida do Norte é uma cidade que eu tenho tido uma atuação, junto com o prefeito. O prefeito de Santa Fé do Sul tem nos apoiado bastante e feito uma grande gestão. O prefeito de Boituva também tem apoiado o nosso projeto, no Guarujá nós temos uma parceria grande. Enfim, 90% do foco do meu mandato será no ABC e os outros 10% eu tenho que deixar subdividido nas parcerias que nós temos ao longo do Estado.
PF: O senhor ficou por muitos anos no MDB e neste ano migrou para o PRB. Por quê?
NB: Houve uma divergência na conduta das ações do MDB. Acabei tendo alguns desentendimentos partidários, a ideologia se mudou e eu fui para o partido Republicano. Foi uma questão pessoal, por acreditar que no PRB a gente consegue fazer um trabalho muito maior.
PF: Mas o que te incomodou no MDB?
NB: O partido tomou algumas decisões que eu não concordei. Por exemplo, o fator previdenciário. O Michel Temer, do MDB, quis aprovar. Eu sou contrário ao fator previdenciário. Algumas ações eu não concordei e por isso acabei trocando de partido.
|
Foto: Divulgação |
PF: O último cargo que o senhor ocupou foi na Prefeitura de Paulínia (secretário de Turismo e de Administração), por seis meses. Deu tempo de deixar algum legado para a cidade?
NB: Deixei um grande legado para a cidade. Consegui destravar várias ações que estavam paradas. Por exemplo: lá uma obra de suma importância para a cidade, era a ponte da Rhodia. Eu consegui destravar junto à Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, consegui licitar e consegui dar a ordem de serviço para o início da obra. Consegui junto ao governador Geraldo Alckmin três transposições da rodovia Zeferino Vaz, uma carência muito grande da região. As pessoas têm que pagar pedágio para poder acessar sua casa e com essas três transposições, que eu consegui junto ao governador, foi um grande ganho. Conseguimos destravar licitação de uniforme escolar, material escolar, reforma das escolas. Eu consegui fazer um grande trabalho lá ao longo dos seis meses. Dizem que em quatro, cinco não foi feito nem a metade.
PF: O senhor cita que fez parte de grandes gestões também em Santo André e São Caetano. Mas o fato é que os dois governos não foram reeleitos. A população, então, não aprovou essas gestões. Por quê?
NB: Vamos por partes. A questão de Santo André: até janeiro de 2012, o governo estava muito bem avaliado, numa posição muito tranquila, quando houve o rompimento do meu trabalho junto ao prefeito Aidan Ravin, no qual, na sequência, foi colocado minha candidatura a prefeito. Eu estava à frente de três secretárias de Gabinete, de Finanças e de Saúde, onde eu consegui fazer um grande trabalho.
Na Saúde, na minha gestão, construí três UPA's e dois hospitais. Pegamos a fila de espera com, aproximadamente, seis horas, entreguei com uma hora. Fizemos o Remédio em Casa. Nas Finanças, dei 44% de aumento para os servidores. Comecei a pagar os precatórios. Na Secretaria de Gabinete foram aprovados 100% dos projetos que eu estava fazendo a interlocução com a Câmara Municipal. Aqui (em Santo André) não dava material e uniforme escolar e passamos a dar, a merenda foi reconhecida com a melhor do Brasil na nossa época.
Eu diria que (a não reeleição) foi um erro de estratégia. Existia uma composição partidária que acabou não se concretizando quando eu tive que deixar o governo e aí o prefeito Aidan não foi reeleito, mas eu não estava no governo no último ano.
PF: O senhor acha que sua participação não teve influência negativa para o governo? Não há culpa sua na não reeleição?
NB: De forma alguma. A não reeleição pode até ter sido culpa minha, porque eu deixei o governo e não tinha quem estava tocando o comando, após a minha saída. Isso é reconhecido até pelo prefeito Aidan. Em janeiro de 2012, nós tínhamos 19 partidos nos apoiando e a tendência era ampliar isso e eu tenho a certeza de que o prefeito Aidan seria reeleito.
As pessoas questionam muito a questão da obra do estádio Bruno Daniel, mas se a gente voltar um pouquinho lá atrás, quando secretário de Finanças, reservei dinheiro, R$ 5 milhões, para a obra do estádio. Acabou que por algum motivo o secretário de Obras não conduzindo a obra. Mas aí é uma questão que eu fazia gestão nas pastas que eu estava nomeado.
PF: Mas o senhor era o homem forte do governo. Houve falta de força, uma falta de articulação da sua parte (para dar andamento na obra)?
NB: Olha, na minha opinião, não.
PF: O senhor tinha três secretarias.
NB: Tinha três secretárias e é o que disse para você, eu fiz jus as três secretárias. Na secretária de Saúde eu fiz uma grande gestão, e não é eu que estou falando, é o povo, por onde eu passo as pessoas reconhecem isso. Na Secretaria de Finanças eu fiz uma grande gestão. Na Secretaria de Gabinete eu fiz uma grande gestão. Não tinha oposição na Câmara Municipal.
PF: E em São Caetano, o que houve?
NB: Em São Caetano, quando eu cheguei, o governo era muito mal avaliado. O governo era péssimo. O governo do Paulo Pinheiro, que é meu amigo, meu parceiro, mas infelizmente era muito mal avaliado. As pesquisas diziam que o percentual de rejeição do governo chegava a 60% e nós perdemos a eleição por 2%.
|
Foto: Divulgação |
Fui secretário de Saúde, de Educação, secretário de Governo, de Planejamento, de Serviços Urbanos e de Segurança. Comprei viatura, comprei farda, comprei colete (à prova de balas), comprei arma.
Conseguimos dar 14% de aumento para o servidor, nas unidades de Saúde não faltavam remédios, conseguimos reduzir o atendimento na fila de espera, os índices de segurança eram os melhores possíveis. O resultado está aí: o governo tinha 65%, 70% de avaliação negativa e nós perdemos a eleição por 2%. Lá nós aprovamos 100% dos projetos na Câmara e eu que fazia a interlocução.
Eu acredito que quando eu cheguei lá o governo voltou a andar para frente e não para trás, que era o que estava acontecendo.
PF: Uma pergunta que eu faço a todos os candidatos é sobre a questão da regionalidade e do Consórcio. Diadema saiu, outras cidades se articularam para isso. Como o senhor avalia a atuação do Consórcio?
NB: Existe uma divergência de opinião muito grande. Eu, sinceramente, confesso a você que sou contrário ao Consórcio.
PF: Por quê?
NB: Qual foi o benefício que o Consórcio trouxe ao ABC até hoje?
PF: O senhor acha que o Consórcio não traz benefícios concretos à população?
NB: Por exemplo, foi criada a casa do ABC em Brasília. O que veio de Brasília até agora? Para fazer a questão da liberação do recurso do BID eu ajudei o prefeito Paulo Serra. Eu intercedi em Brasília para ajudar que o financiamento viesse. Teve uma demanda de Ribeirão Pires, que eu intercedi junto ao governo federal para que fosse liberado. Em Santo André, foram US$ 25 milhões e, em Ribeirão, se não me engano R$ 9 milhões.
Acho que nós temos que pensar no nosso Grande ABC independente do partido. Temos que pensar no melhor para as pessoas que vivem aqui e o melhor para as cidades do ABC. O prefeito Kiko (de Ribeirão Pires) é do PSB, o prefeito Serra (de Santo André) é do PSDB. Todos os prefeitos que pediram para que eu intercedesse, foi intercedido e graças a Deus nós conseguimos ter êxito. Portanto, eu diria que o Consórcio precisa, efetivamente, fazer gestão. A casa do ABC lá em Brasília: eu não vi nenhuma grande obra ou nenhum grande resultado que tivesse chegado aqui através da Casa do ABC.
PF: Então, para você, o Consórcio é um órgão desnecessário? Deveria extinguir-se?
NB: Na minha opinião, sim. O Consórcio não traz resultado nenhum para as cidades do ABC. Em São Caetano eu trouxe uma emenda para fazer um campo de grama sintética. Eu fui pedir para o ministro. O recurso está parado aí, o prefeito não recebeu até agora. Era para fazer o campo do Abrev. Nós precisamos é que os governantes tenham equipes para criar projetos e buscar recursos, tanto no governo do Estado, quanto no governo Federal, independente do Consórcio.
PF: Nesta eleição, é mais difícil tirar votos dos seus adversários ou das pessoas que descrentes com a política e que não querem votar?
NB: Eu não estou querendo tirar votos dos meus concorrentes, não. Estou querendo convencer as pessoas que estão indecisas e que não têm a definição de ir para urna ainda. Mas eu não tenho encontrado muita dificuldade. Por onde eu passo e consigo conversar com as pessoas, e eu tenho feito muito isso, eu tenho conseguido convencer. Eu tenho tido uma receptividade muito boa.
PF: Considerações finais.
NB: Eu acho que a população tem que ter essa conscientização, de que o não votar é pior. O cara que não vai votar paga multa e a multa vai ser revertida para o fundo partidário. Ela vai ser revertida para os políticos. As pessoas têm que ir à urna.