quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Autonomia dos filhos: a opção é sua, porém...

*Por Jozimeire Stocco

O que desejamos para o presente e futuro dos nossos filhos em relação à autonomia? O que precisamos realizar para que se tornem sujeitos autônomos e saibam tomar decisões?

Essas duas questões pautam o que nesse mês eu desejo compartilhar com os leitores a partir da minha perspectiva como mãe e educadora. No meu cotidiano eu procuro me colocar no lugar das famílias quando preciso aconselhá-las.

Cada uma tem um jeito peculiar de educar, influenciada pela cultura, religião, valores e tradições, entre outros aspectos que tornam a formação das crianças e adolescentes algo bem complexo. Desse modo, quando exponho ideias, tenho a intenção de cooperar, de alguma maneira, com sugestões e encaminhamentos que foram construídos ao longo da minha vida e experiência. Ao observar diariamente as crianças e adolescentes com os quais tenho contato, noto o jeito que cada um tenta resolver seus problemas, lida com situações inusitadas, expõe pensamentos, argumenta e relaciona-se com o outro. É muito interessante perceber a multiplicidade de ações e reações que são decorrentes daquilo que aprendem, compreendem e relacionam no universo no qual estão inseridos.

Uma das questões que têm me chamado a atenção é o desenvolvimento da autonomia. Esse tema é bastante amplo e por essa razão, me posiciono de uma maneira abrangente, que contribuirá para a compreensão do que é importante e foi considerado no que diz respeito as orientações a seguir.

Foto: Reprodução
Entendo que ela é a capacidade que o ser humano desenvolve de autogovernar-se, de tomar decisões, sem ter que depender do outro, mesmo que na convivência diária haja interação e múltiplas situações de aprendizagem e de internalização. O caminho para a autonomia é diário e constante e pode ser possibilitado pelos adultos que têm a responsabilidade de educar. Nesse sentido, percebo que algumas famílias optam por incentivar os filhos, conforme eles crescem, a agir de maneira que possam tomar pequenas decisões desde o que comer ou a escolha de uma peça do vestuário, e outras que, mesmo diante do crescimento dos filhos, não oportunizam as decisões mais simples.

Assim, alguns vão se mostrando mais independentes do que outros. Ousam dizer o que pensam, o que desejam, enquanto há aqueles que sobre qualquer assunto, precisam ouvir sempre o que o adulto ou um amigo mais próximo tem a dizer, para agir exatamente como foi sugestionado. Saber fazer escolhas, dizer sim ou não, sem ter receio de se posicionar, argumentar sobre os mais diversos assuntos, faz parte do amadurecimento do ser humano e nós podemos incentivar e possibilitar situações em que os filhos desenvolvam a autonomia e a inteligência emocional.

Quando eles são muito pequenos fazemos (e temos que fazer) muitas coisas por eles, mas quando começam a crescer, qual a nossa concepção sobre a autonomia que desejamos ou queremos dar? Qual cultura de cooperação oportunizamos em nossos lares? Quais são as atividades que a família realiza em casa e pode delegar no todo ou em parte ao filho? Como a família procede para ajudar nas lições de casa sem fazê-la pelo filho? Precisamos desenvolver a atitude de nos questionarmos para darmos sentido aquilo que desejamos e precisamos realizar desde a mais tenra idade das crianças e adolescentes, a fim de que possamos contribuir com a formação deles, pois só assim encontraremos caminhos para incentivá-los a serem sujeitos autônomos, que saibam o que querem para suas vidas, sem que sejam nossos dependentes além do necessário.

Não há receitas, mas há indicadores que nos mostram o quanto estamos predispostos a dar essa liberdade de ação, com orientação e supervisão. A autoridade dos pais e responsáveis é imprescindível para que os filhos percebam limites e conquistem a confiança que tanto desejam e percebam que, no caminho da autonomia, há responsabilidade e consequência, que a liberdade tem um preço, que os direitos e deveres caminham juntos. Todavia, a formação não é exclusividade da família. Quando essa escolhe a escola do filho, por exemplo, há o início de uma parceria para a educação, com os valores, princípios norteadores e metodologias de ensino adotadas pela instituição. Uma decisão que tem um papel relevante na construção de valores, ideologias e condutas na formação individual. Compreendo que o que se passa na escola pode afetar a rotina do estudante e de sua família, assim como acontecimentos em família podem afetar a convivência e desempenho no espaço escolar. Os processos de desenvolvimento são individuais, mas o meio tem grande influência. Assim, essa parceria tem que dar certo!

Ressalto que a autonomia que proponho a ser instigada aos filhos é aquela que está acompanhada de responsabilidade, de codependência quando necessário, de liberdade quando possível, e de muito diálogo sempre, para que se verifique se eles estão prontos para agir numa determinada situação e se não estão, por que não estão? De acordo com as respostas é que juntos pensarão em como solucionar o contexto e avançar nas conquistas. Nem sempre eles terão os mesmos desejos que você, mas quando isso acontecer, mostre seu posicionamento, argumentando e dando voz e vez para eles. Apesar de não conhecer a realidade de cada família, deixo algumas sugestões para serem praticadas:

1) Que tal implantar uma roda de conversa a fim de dialogar sobre as regras de convívio, revisitando-as, revendo-as ou reforçando-as?

2) Na hora do almoço ou do jantar, é interessante focar nos assuntos de interesse comum, sem distrações. O foco nesse momento é a família.

3) Estabelecer algumas metas de autonomia para cada filho, de acordo com a idade e aproveitar para mostrar que cada um tem responsabilidades é uma proposta que fortalece os vínculos em família.

4) Estimular os filhos a falarem sobre os sonhos deles e aproveitar esse momento para descobrir o que cada um pensa e deseja para si, é uma oportunidade para descobertas e planejamento de ações.

5) Ouvir o que eles têm a dizer para você, é um jeito de mostrar que sabe escutar e que é alguém que merece ser escutado, independente de ser a autoridade da família com a qual eles têm o melhor relacionamento.

6) Nessa convivência em família cada filho pode aprender a ser autônomo e quando tiver que fazer escolhas, pensar em três perguntas: quero? Posso? Devo?

 Quem nossos filhos são hoje e o que serão no futuro depende, em parte, do que estamos escolhendo, fazendo ou decidindo no presente, junto com eles ou por eles.

*Jozimeire Stocco: Pós-doutoranda em Educação pela PUC/SP, Doutora em Educação pela PUC/SP, Especialista em Educação Infantil.



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