quinta-feira, 29 de setembro de 2016

“Aidan de 2016 é bem diferente do de 2008”, diz ex-prefeito

Por Carla de Gragnani do Diário Regional

O ex-prefeito e candidato do PSB ao comando do Paço de Santo André, Aidan Ravin, criticou em entrevista ao Diário Regional a gestão do atual prefeito Carlos Grana (PT) e acusou a legenda de seu adversário na eleição de domingo (2) pelo impasse envolvendo a dívida junto à Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que já atinge R$ 3,2 bilhões. O pessebista também destacou seu “amadurecimento” político desde a vitória majoritária nas urnas, em 2008, e prometeu o resgate do sistema de saúde, além do “redimensionamento” da máquina pública, com corte de secretarias, contratos e cargos comissionados.

“Em tempos de crise temos de apertar o cinto, mas isso não foi feito” | Foto: Arquivo 
Qual é a principal diferença da sua candidatura hoje para as disputas de 2008 e 2012?
Em 2008, fui candida¬to após ser o vereador mais votado da cidade (em 2004). Hoje, sou ex-prefeito e tenho um trabalho que as pessoas conhecem. Porém, ainda me posiciono contra a máquina, por conta dos escândalos e da má gestão da atual administração. A comunidade consegue enxergar o que a gente tinha no passado e hoje já não tem. Tive de aprender e conhecer mais o cotidiano do gestor. Vejo o Aidan de 2008 bem diferente do de 2016. Houve aprendizado, amadurecimento no nível administrativo. Passamos a conhecer mais a cidade e as pessoas.

Quem é seu principal adversário no domingo?
Meu principal adversário, e da cidade, é o PT. É o que a gente ouve em cada canto do município. Se o PT não for para o segundo turno, já será uma vitória para a cidade. A gente anda nas ruas e as pessoas falam que essa administração foi muito ruim. Não é só aqui. A cada hora surge mais uma denúncia em nível nacional, como a recente prisão do Antônio Palocci (ex-ministro da Casa Civil no governo Dilma Rousseff e ministro da Fazenda no governo Lula). Estão cercando cada vez mais o partido por erros absurdos que nunca deveriam ter acontecido.

Como resolver o problema da falta de água existente em alguns bairros de Santo André?
Água é um bem comum e não deveria faltar em Santo André. Houve um desequilíbrio entre a prefeitura e a Sabesp. Não temos crise e sim uma dívida que foi criada em 1997, devido ao não pagamento da conta de água da cidade. A Companhia de Saneamento Ambiental de Santo André (Semasa) recebeu esse dinheiro, por isso, há briga de Justiça. Essa equação pode ser resolvida, porque o Semasa recebe quase R$ 800 milhões por ano e possui ativos. Temos de buscar o melhor jeito de resolver isso. Infelizmente, houve um erro do governo do PT, que ficou dois anos sem pagar a conta de água completa. O restante deveria ser depositado em juízo, o que não aconteceu. Houve  evasão desse dinheiro, que sumiu. Por isso, cheguei a denunciar o Semasa no Ministério Público (MP).

Houve polêmica envolvendo uma fala sua sobre o Morro do Kibon, em que o senhor teria criticado as intervenções feitas pela  prefeitura no local. Houve erro de interpretação?
Não pegaram minha fala completa. Questionei, a um grupo de empresários, o fato de o PT fazer benfeitorias em um lugar particular. O governo não pode fazer isso. Coloquei para eles que está errado esse modo de gerir. As benfeitorias têm que ser feitas, mas lá é um local invadido, particular, e a prefeitura não pode simplesmente passar por cima.  Primeiro, é preciso regularizar aquele espaço. Existem impostos atrasados daquele terreno e é possível trocá-los com a prefeitura, regularizando a área e cedendo-a às pessoas. Fazendo isso, elas terão o direito da moradia e o dever de (pagar o) imposto. Eu fui ao Morro do Kibon e conversei com os moradores de lá. Mostrei o que de fato tinha falado. Quando se coloca remédios nos postos, dá-se dignidade e atendimento público. Quando se coloca uniforme e merenda para as crianças, estamos atendendo aos pobres e não aos ricos. Foi isso que fiz quando governei a cidade. Querem inverter a situação. Quando o PT tira o remédio dos postos está prejudicando os ricos ou os pobres? É a forma que têm de fazer política. 

Fale sobre seu plano de governo e sobre as prioridades de sua gestão.
A maior queixa na cidade é a Saúde, que virou um caos muito grande, com falta de medicamentos, postos que perderam a qualidade e demora muito grande para atendimento. Quando isso acontece, a chance de uma doença de instalar é muito grande também. Não se trabalha na prevenção e sim no fim, o que gera mais gastos. Vamos ter de fazer esse resgate na Saúde. A educação caiu muito também. O material escolar e o uniforme para as crianças não vieram e a merenda é de péssima qualidade. Isso causa a evasão das crianças. Não tem alimentação, não tem uniforme e material escolar e as crianças não conseguem se manter na escola. Temos de pensar nisso com muito carinho. Nos quatro anos de minha gestão, ganhamos o prêmio de segunda melhor merenda do Estado. 

Como o senhor esperar herdar a prefeitura financeiramente?
Temos uma dívida ativa muito grande provocada pela administração, que chegou a R$ 1,1 bilhão em abril deste ano. Imagino que vai chegar a R$ 1,5 bilhão ou R$ 1,8 bilhão até o final do ano. Isso porque houve queda de receita e  mau direcionamento dos recursos. Quando se ganha R$ 10 mil não se pode gastar R$ 20 mil por mês e foi isso o que aconteceu em Santo André:  mau uso do dinheiro público. Não há recursos para fazer o básico e não adianta querer sair do básico. Em tempos de crise, temos de apertar o cinto e reduzir gastos, mas nada disso foi feito. Não foi cortada nenhuma secretaria e nenhum cargo comissionado. Vamos ter de redimensionar essa administração a partir do ano que vem.

O senhor projeta fazer  cortes de secretarias e de comissionados?
Obrigatoriamente teremos de cortar. Não é isso que vai resolver o problema econômico de Santo André, mas vai ajudar. É uma questão moral. Será um enxugamento total, não só de cargos, mas de ações desnecessárias e contratos. Não adianta projetar arrecadação, temos de trabalhar com a realidade, com o que está entrando e com a programação que se tem. Alguns pontos da cidade são fundamentais e precisam ser equilibrados, como é o caso da Saúde. Temos de apertar os cintos, fechar os buracos e as torneiras para conseguir redimensionar isso. Não vai ser fácil, mas não é impossível caminhar nesse sentido.

Que ações o senhor projeta para elevação das receitas da prefeitura?
A queda da receita é reflexo das empresas que estão fechando, lojas que não conseguem se manter, enfim. Acredito que, no ano que vem, o mercado vai voltar a aquecer. Ainda como pré-candidato, fui a Brasília e protocolei vários projetos para trazer para cá em 2017. Há muita verba e projetos parados em Brasília. Além disso, o vice-governador de São Paulo (o Márcio França) é do nosso partido (PSB) e temos porta aberta no Estado para trazer projetos a Santo André.
Em um primeiro momento, temos de transformar os impostos que pagamos à União e ao Estado em projetos para a cidade. A crise é no país e não apenas em Santo André, mas podemos começar a trabalhar com as pequenas empresas e tentar fomentar o Parque Tecnológico para torná-lo, de fato, algo real. Deixamos isso estruturado, mas nos últimos quatro anos nada foi feito na cidade. Santo André já foi uma cidade “top” e temos de fazer o município voltar ao que era antes. Temos a quinta maior arrecadação do Estado de São Paulo, só precisamos ter pulso firme a partir do ano que vem.





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