quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Três acordes e espírito jovem - uma lição de punk rock




“Nós Somos as Melhores” evoca aspectos do movimento punk ao abordar a trajetória de uma banda formada por três meninas de Estocolmo

Por Nilton  Carvalho 



Uma das lições do punk rock que surgiu ao final dos anos setenta, nos Estados Unidos e Inglaterra – principais berços do movimento –, foi mostrar que qualquer um era capaz de montar sua banda. O destaque ao ano de 1977, para ser mais preciso, recorta o momento no qual muitos jovens assimilaram a efervescência musical (e marginal) de um período como caminho a seguir, cujas bandas estampavam capas de fanzines amalucados que circulavam no cenário underground. 

A juventude dessa época descobriu que para fazer parte de um grupo de rock não era preciso tocar bem os instrumentos, falar com a imprensa, ser popular no colégio e usar roupas da moda. No punk rock tais regras não importavam. Quando as amigas Bobo, Klara e Hedvig, na pré-adolescência de seus 12 anos, questionam alguns conceitos estabelecidos para montar uma banda, o filme Nós Somos as Melhores! (Vi är bäst!) reconfigura os ideais do chamado “punk 77” na realidade de três meninas de Estocolmo.

Dirigido por Lukas Moodysson, o longa é uma adaptação da história em quadrinhos Never Goodnight, da artista Coco Moodysson – casada com o diretor. Na temática proposta pelo roteiro, há clara ligação entre elementos do turbulento universo adolescente e o caótico movimento punk, que fazia oposição à cultura mainstream. Entre um “bandejão” e outro no refeitório do colégio, as meninas falam sobre a caretice dos pais e a possibilidade de um acidente nuclear.

Punk-fofura

Elementos romantizados da rebeldia que marcou a fase inicial do punk são evocados nas histórias protagonizadas pelas garotas. Bobo e Klara não sabem tocar, mas mesmo assim tentam, desafinam e fazem barulho. Durante a aula de educação física, o desentendimento com o professor abre caminho para o surgimento da primeira canção, de refrão direto e sem rodeios, “odeio esportes, odeio esportes”. Eis outra sacada que dialoga com o punk: para compor não é preciso arrebatamento filosófico, pois as letras geralmente são recortes do cotidiano da molecada.

Hedvig é a única com formação musical, é descoberta pelas colegas durante o festival de artes do colégio, após apresentar um tema erudito ao violão. Bobo e Klara têm opiniões divergentes sobre a nova integrante, de formação cristã e cabelos longos, visual que destoava do curtinho-espetado do punk. Os diálogos e defesas de opinião são divertidíssimos, e mostram também como as questões ideológicas e políticas da banda têm relevância para as meninas.

Em meio a essa pulsação de energia, há também espaço para momentos de fofura contagiante. Elas brigam e em seguida se abraçam, compartilham conselhos, (quase) morrem de amor ao escutar as bandas que admiram e defendem com veemência que o punk não morreu. No primeiro show do grupo, sob uma chuva de xingamentos, as garotas respondem à hostilidade da plateia com provocações ao melhor estilo Sid Vicious. Ou seja, são punks e fofas com a mesma intensidade.

As trajetórias de Bobo, Klara e Hedvig remetem a uma porção de outras histórias de bandas, conhecidas ou à margem da fama. Vale lembrar, que quebrar regras não é aspecto exclusivo do movimento punk, a arte em si por diversas vezes exibiu doses de rebeldia – em especial os dadaístas. Contudo, Nós Somos as Melhores! joga luz sobre um momento significativo de desconstrução artística, no qual grupos emergiram de porões e garagens, ao som de três acordes e letras carregadas de espírito jovem, para descomplicar o rock. 

Nós Somos as Melhores!
Direção: Lukas Moodysson.
Espaço Itaú de Cinemas - Unidade Augusta.
Sala 3 (14h – 16h – 18h – 20h – 22h).

Link com o trailer:

Nenhum comentário:

Postar um comentário