“Nós
Somos as Melhores” evoca aspectos do movimento punk ao abordar a trajetória de
uma banda formada por três meninas de Estocolmo
Por Nilton Carvalho
Uma das lições do punk rock que surgiu
ao final dos anos setenta, nos Estados Unidos e Inglaterra – principais berços
do movimento –, foi mostrar que qualquer um era capaz de montar sua banda. O
destaque ao ano de 1977, para ser mais preciso, recorta o momento no qual
muitos jovens assimilaram a efervescência musical (e marginal) de um período como
caminho a seguir, cujas bandas estampavam capas de fanzines amalucados que circulavam no cenário underground.
A juventude dessa época descobriu que
para fazer parte de um grupo de rock não era preciso tocar bem os instrumentos,
falar com a imprensa, ser popular no colégio e usar roupas da moda. No punk
rock tais regras não importavam. Quando as amigas Bobo, Klara e Hedvig, na
pré-adolescência de seus 12 anos, questionam alguns conceitos estabelecidos
para montar uma banda, o filme Nós Somos
as Melhores! (Vi är bäst!)
reconfigura os ideais do chamado “punk 77” na realidade de três meninas de
Estocolmo.
Dirigido por Lukas Moodysson, o longa é
uma adaptação da história em quadrinhos Never
Goodnight, da artista Coco Moodysson – casada com o diretor. Na temática
proposta pelo roteiro, há clara ligação entre elementos do turbulento universo
adolescente e o caótico movimento punk, que fazia oposição à cultura mainstream. Entre um “bandejão” e outro
no refeitório do colégio, as meninas falam sobre a caretice dos pais e a
possibilidade de um acidente nuclear.
Punk-fofura
Elementos romantizados da rebeldia que
marcou a fase inicial do punk são evocados nas histórias protagonizadas pelas
garotas. Bobo e Klara não sabem tocar, mas mesmo assim tentam, desafinam e
fazem barulho. Durante a aula de educação física, o desentendimento com o
professor abre caminho para o surgimento da primeira canção, de refrão direto e
sem rodeios, “odeio esportes, odeio esportes”. Eis outra sacada que dialoga com
o punk: para compor não é preciso arrebatamento filosófico, pois as letras
geralmente são recortes do cotidiano da molecada.
Hedvig é a única com formação musical, é
descoberta pelas colegas durante o festival de artes do colégio, após
apresentar um tema erudito ao violão. Bobo e Klara têm opiniões divergentes
sobre a nova integrante, de formação cristã e cabelos longos, visual que
destoava do curtinho-espetado do punk. Os diálogos e defesas de opinião são
divertidíssimos, e mostram também como as questões ideológicas e políticas da
banda têm relevância para as meninas.
Em meio a essa pulsação de energia, há
também espaço para momentos de fofura contagiante. Elas brigam e em seguida se
abraçam, compartilham conselhos, (quase) morrem de amor ao escutar as bandas
que admiram e defendem com veemência que o punk não morreu. No primeiro show do
grupo, sob uma chuva de xingamentos, as garotas respondem à hostilidade da
plateia com provocações ao melhor estilo Sid Vicious. Ou seja, são punks e
fofas com a mesma intensidade.
As trajetórias de Bobo, Klara e Hedvig
remetem a uma porção de outras histórias de bandas, conhecidas ou à margem da
fama. Vale lembrar, que quebrar regras não é aspecto exclusivo do movimento
punk, a arte em si por diversas vezes exibiu doses de rebeldia – em especial os
dadaístas. Contudo, Nós Somos as
Melhores! joga luz sobre um momento significativo de desconstrução
artística, no qual grupos emergiram de porões e garagens, ao som de três
acordes e letras carregadas de espírito jovem, para descomplicar o rock.
Nós Somos as Melhores!
Direção: Lukas Moodysson.
Espaço Itaú de Cinemas - Unidade Augusta.
Sala 3 (14h – 16h – 18h – 20h – 22h).
Link
com o trailer:
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