Por Tarcisio Secoli,
economista e secretário de Serviços Urbanos da Prefeitura de São Bernardo do
Campo
Um dos principais desafios do gestor público moderno é implementar ações que promovam a mudança consciente de hábitos e de atitudes em uma cidade. Não bastam as importantes obras sem que aja a contrapartida da qualidade de vida, como também não bastam as políticas públicas sem a participação do agente mais importante e para o qual trabalhamos: o cidadão, a família.
Em um mesmo programa, aliamos respeito ao meio ambiente, sustentabilidade, trabalho e renda, promoção de uma nova maneira de pensar e de agir e, em um futuro bem próximo, até mesmo a geração de energia limpa a partir do lixo. Tudo isso começou com a proposta de construção da usina de incineração de lixo e, a partir de 5 de junho de 2013, Dia Mundial do Meio Ambiente, quando lançamos, no Rudge Ramos, o inédito processo de Coleta Seletiva Porta a Porta, que mais tarde foi expandido para 100% de São Bernardo do Campo. Além de caminhões adaptados, adotamos motolixos para recolher o reciclado em locais de difícil acesso.
Nestes dois anos e quatro meses, temos uma atitude positiva consolidada por parte das pessoas em relação ao descarte do lixo doméstico. Começamos com 0,81% e hoje já reciclamos 4,8%. Atualmente, são recicladas cerca de 6 mil toneladas de materiais em toda a cidade. E temos trabalhado a conscientização desde cedo nas escolas municipais de Educação Básica (Emebs). As crianças são ótimas educadoras, eficientes fiscais de comportamento sustentáveis dos adultos e os cidadãos do amanhã. Em São Bernardo, em 2015, são cerca de 85 mil estudantes.
As famílias já se habituaram e sabem que o lixo seco deve ser separado do molhado e que o vidro, por questões de segurança, deve ir em recipiente separado.
Hoje 116 pessoas fazem parte das cooperativas Raio de Luz e Cooperluz e sobrevivem com o material coletado. Os dois grandes galpões automatizados têm capacidade para processar 100 toneladas por dia e estão localizados no Bairro Cooperativa. Além do aumento de renda, esses trabalhadores ganharam melhores condições de trabalho, segurança e dignidade. Todo o material recolhido é levado para as duas centrais de triagem, construídas pela Prefeitura de São Bernardo para processar o volume cada vez maior de recicláveis.
É uma grande satisfação ouvir um pai dizer que o filho o corrigiu quando ele jogou alguma coisa no lixo comum. “Pai, garrafa PET deve ir para o lixo reciclado.” Essa postura, de certa forma, não era uma prática comum quando as famílias jogavam seu lixo. A mudança de atitude é uma realidade 28 meses depois que passamos a recolher o lixo reciclável pelas ruas dos bairros. E esse foi um processo de aprendizado mútuo: dos moradores, aderindo e fazendo a separação correta do que é e do que não é reciclado, e da Prefeitura, aperfeiçoando todo o processo que envolve o lixo reciclado, do recolhimento à triagem e destinação final.
A nossa meta é reciclar pelo menos 10% de todo o lixo coletado na cidade até o fim de 2016. Trabalhamos com dados realistas, em vez de projeções que não serão cumpridas.
Todo o processo de reciclagem é complementado pelo novo Sistema de Processamento e Aproveitamento de Resíduos e Unidade de Recuperação Energética (SPAR-URE). A usina de incineração vai gerar energia limpa e está aguardando licenciamento ambiental pela Cetesb. Quando estiver finalizada, gerará cerca de 17 MW/H, o suficiente para garantir toda a iluminação pública de São Bernardo do Campo.
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