Desde o início do ano, os voluntários do programa ‘Escreve Cartas’, do Poupatempo, estão atendendo principalmente desempregados que precisam de ajuda para elaborar currículos profissionais. Os escrevedores, que ficam à disposição para quem precisa redigir cartas ou preencher formulários, elaboram os currículos e fazem cópias para que os desempregados possam distribuir nas empresas.
O programa Escreve Cartas está completando 15 anos de existência e tradicionalmente atende a pessoas analfabetas ou com dificuldades de escrever nos postos Poupatempo Itaquera, Santo Amaro e São Bernardo do Campo. Em geral são mães que pedem para escrever cartas para filhos presos ou migrantes que endereçam cartas para parentes distantes.
O programa de voluntariado nasceu inspirado no filme ‘Central do Brasil’, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Montenegro. No filme, a atriz trabalha em uma estação ferroviária escrevendo cartas para pessoas analfabetas.
“Desde janeiro, a maior procura é por pessoas que pedem para a gente elaborar o currículo profissional para que elas possam tentar voltar ao mercado de trabalho”, relata a voluntária Elza Gonçalves. Até o ano passado, os pedidos para elaboração de currículo eram em média de cinco ou seis por dia na unidade de Santo Amaro. Agora, segundo ela, chegam a passar de 30 por dia. “Em janeiro, só na primeira semana foram 68 atendimentos e 40 eram pedidos de currículo”, diz a voluntária.
Ajuda dos voluntários é importante para Ingrid (direita) voltar ao mercado | Foto: divulgação |
Cleide Maria Tintore Costa, voluntária há dez anos no Escreve Cartas, conta que o perfil do programa mudou ao longo do tempo. “Com a internet e os celulares cada vez mais populares, diminuiu o número de pedidos de cartas para parentes distantes e cresceu a procura pelo preenchimento de formulários do Detran e do Procon, por exemplo”, conta ela.
Outro pedido muito comum é o de auxílio para escrever cartas para apresentadores famosos da TV, especialmente os de programas que prometem algum tipo de assistencialismo. Também são comuns os pedidos de cartas para políticos, reclamando promessas não cumpridas, falando de dificuldades ou pedindo ajuda. “Alguns voltam dias depois reclamando que não receberam resposta dos apresentadores ou dos políticos”, comenta a voluntária.
A mudança no perfil dos atendidos pelo Escreve Cartas obrigou o programa a se adequar. “Antes, o fundamental era saber escrever à mão para cartas manuscritas, mas agora o voluntário também precisa saber usar o computador para preencher currículos e imprimir, por exemplo”, conta Cleide Tintore Costa.
Na última sexta-feira (19), o Escreve Cartas do Poupatempo Santo Amaro foi procurado pela estudante Hallayne Mikelly, de 17 anos, moradora do bairro Valo Velho, interessada em elaborar um currículo para tentar uma vaga de recepcionista ou vendedora na região do Morumbi. Ela concluiu o ensino médio e está em busca do primeiro emprego para ajudar a família, enquanto tenta uma vaga em um curso de psicologia. “Vou tirar cópias e distribuir o currículo nas lojas para tentar a sorte”, disse a estudante.
A estudante Hallayne procurou ajuda dos voluntários para elaborar o currículo | Foto: divulgação |
A operadora de caixa Ingrid Lucas, de 24 anos, que perdeu o emprego temporário de fim de ano há duas semanas, também esteve no Poupatempo Santo Amaro para pedir ajuda dos voluntários do Escreve Cartas para fazer o seu currículo. “Vou buscar outra vaga no comércio, pois preciso trabalhar e ajudar a família”, disse ela.
Segundo os escrevedores, outro serviço que cresceu é o de pessoas que pedem ajuda para preencher formulários de cancelamento da inscrição como Microempreendedor Individual na Junta Comercial de São Paulo, que também funciona dentro do Poupatempo Santo Amaro.
O programa Escreve Cartas atende
Inicialmente, os postos Poupatempo de Santo Amaro e Itaquera foram escolhidos para receber o programa devido à grande concentração de migrantes e pessoas de baixa renda. Em 2008, o serviço começou a operar também no Poupatempo São Bernardo do Campo. Em 15 anos de existência, cerca de 330 mil atendimentos foram realizados pelos voluntários, escrevedores de cartas.
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