quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

As escolas e a cidadania global

Por Jozimeire Stocco*

Nesse início de ano, entre tantas compras e pagamentos que as famílias têm para fazer, está a lista de material escolar e nessa, os livros com os quais os filhos terão, por meio da leitura, a oportunidade de aprender.

Quando começamos a folheá-los (essa é uma prática que diz muito sobre a escola), percebemos o que eles estudarão. Algo que tem me chamado a atenção, há algum tempo, são os currículos das instituições de educação, que demonstram o que será dado como conteúdo, mas que para mim, precisa ir muito além disso: mencionar os conhecimentos e as habilidades essenciais que serão potencializadas, revelar a concepção de cidadania que subsidia as práticas pedagógicas e que são vivenciadas por meio de propostas ou projetos, apontar quais são os direitos essenciais de aprendizagem de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e denotar a maneira pela qual os estudantes serão incentivados a pensar sobre o mundo ao seu redor, inclusive com oportunidades de levantamento de hipóteses e elaboração de respostas diante de determinados contextos.

As famílias precisam verificar se além da elaboração desse currículo diferenciado, que poderá incrementar a formação que eles receberão desde a mais tenra idade, se há também o interesse de formar a equipe docente que garantirá que as experiências acadêmicas serão as mais enriquecedoras. É necessário ter em mente que os professores são essenciais na construção do currículo que nossos filhos terão pela vida afora e que podem ser preparados para o exercício da consciência global e conseguirem enfrentar os desafios mundiais com os quais conviverão. Quando escolhemos a escola, nosso interesse tem que contemplar muito mais do que o espaço físico. É indispensável compreender qual é a concepção de educação que a instituição tem em mente para garantir que as propostas estejam de acordo com a formação que desejamos, que vai além de certificados e que pode, de fato, mudar a vida das pessoas. Desse modo, a ética, o conhecimento, as competências sociais, o autoconhecimento e o preparo para a cidadania global tem que estar presentes no cotidiano.

Imagem: Reprodução
É possível instituir em cada espaço escolar, a partir de uma determinada idade a ser definida por quem está à frente do trabalho pedagógico, que os estudantes compartilhem o que aprendem com os outros, que podem (e devem) se envolver com a comunidade onde estão inseridos, de modo a contribuir para um mundo melhor, quer seja na elaboração de brinquedos a serem entregues para uma determinada instituição, até o levantamento e teste de hipóteses para solucionar um problema comunitário que foi estudado. Essa geração precisa ser ativa e conseguir, mediante aos estímulos e estratégias, demonstrar suas competências de maneira mais profunda. Por meio da convivência, todos podem aprender a respeitar, compreender às inúmeras diferenças entre os sujeitos e perceber a diversidade cultural que há numa sociedade, por exemplo. Isso é fundamental.

Para que a instituição que vocês selecionaram contribua com a formação de seus filhos, os currículos precisam ter uma base de alta qualidade e ser sustentado pela equipe docente e por uma liderança que empreenda esforços coordenados de modo a garantir essa aprendizagem de peso. Ser um cidadão global é muito mais do que pertencer a uma família, a uma escola, a um bairro, estado ou país. É se ver como parte de uma comunidade maior, a da humanidade, a do planeta. É compreender que temos um lugar no mundo e que as questões que afetam outros povos também nos afetam, tais como às relacionadas à pobreza, aquecimento climático, desmatamento de florestas, falta de recursos hídricos, saneamento básico e desenvolvimento sustentável.

Como educadora, eu acredito que nossas crianças e jovens poderão, embasados nas experiências e conhecimentos que obtiverem, conseguir propor soluções de problemas que atualmente enfrentamos, pois enxergarão além de seus territórios mais próximos.

Exemplo disso é a vida do ativista australiano, o humanista Hugh Evans, que co-fundou, em 2012, uma comunidade online The Global Citizen Platform (Plataforma da Cidadania Global) da qual fazem parte milhões de pessoas, todas elas interessadas na erradicação mundial da extrema pobreza até o ano de 2030. Aos 14 anos, ele passou a noite em uma favela de Manila, Filipinas a fim de conhecer a realidade das pessoas que ali residiam. As experiências que ele vivenciou o motivou a desafiar a situação da pobreza. Alguns anos depois, ao visitar a África do Sul na condição de Embaixador da Juventude, ele trabalhou na Campanha Make Poverty History (ou Faça da pobreza uma coisa do passado). Sugiro que leiam algumas ações desse jovem, disponível nas Redes Sociais. Elas são inspiradoras!

Compreendo que cidadãos globais podem exigir de seus líderes, soluções que têm grande impacto social e a escola pode contribuir na formação infanto-juvenil por meio do currículo que proporciona e das oportunidades que oferece no cotidiano. Nesse sentido, a parceria com a família é fundamental, pois cabe a essa acompanhar e verificar o que está sendo realizado sempre atenta se as práticas escolares são transformadoras e estão comprometidas com:

– Necessidades e interesses dos estudantes.
– Protagonismo infantil e juvenil.
– Sentimento de pertencimento a uma comunidade.
– Experiências relacionadas à construção de identidade pessoal e coletiva.
– Acesso a ciência e a cultura.
– Formação de pessoas críticas e participativas.
– Empatia e solidariedade.
– Viver em harmonia com a natureza.
– Atitudes e valores sustentáveis.
– O desenvolvimento de habilidades, tais como autonomia, trabalho em equipe,
tolerância, resiliência e integridade.

*Jozimeire Stocco: Pós Doutorado e Doutorado em Educação: Currículo pela PUC/SP, Mestrado em Educação e Especialista em Educação Infantil.


Nenhum comentário:

Postar um comentário