*Rodrigo Augusto Prando
Faz, exatamente, uma semana do início do Governo Bolsonaro. Nunca, antes, haviam me solicitado um artigo de avaliação de sete dias de mandato, geralmente, escreve-se sobre os 100 primeiros dias. Penso, aqui, que essa pressa em sopesar o atual governo seja fruto de suas próprias escolhas.
Bolsonaro decidiu por centrar sua comunicação, como candidato e como presidente, por meio das redes sociais e neste universo prevalece a velocidade de informações e ideias, bem como uma linguagem pobre em seu conteúdo e forma. Sempre quando alguém quer ser mais profundo em uma postagem, começa com a advertência: "lá vem textão". Bolsonaro e os seus – filhos, ministros e auxiliares mais próximos – não parecem ser afeitos aos textos mais robustos e tampouco teóricos.
Com isso, obviamente, vale enfatizar que pouco se pode avaliar de concreto em uma semana de atividade governamental, mas essa ânsia por essas ponderações são, essencialmente, fruto da própria dinâmica que o presidente assumiu ao escantear a mídia tradicional e a burocracia estatal em benefício da linguagem "lacradora" das redes.
Um dos pontos, após eleito, era de que Bolsonaro abandonasse o discurso de palanque, com ataque aos adversários e afirmações esdrúxulas como "libertar o país do socialismo" ou "nossa bandeira jamais será vermelha". Afirmações de ótima força para campanhas e sem sentido para um presidente eleito. Assim, seus discursos iniciais, no Congresso Nacional e, depois, no parlatório foram fracos, ruins mesmo, em forma e conteúdo. Nos dias que se seguiram, outros elementos são passíveis de considerações. Bolsonaro bateu boca com Haddad, candidato derrotado, pelas redes sociais. Mais problemático, contudo, foram afirmações do presidente que foram, em seguida, desmentidas por subordinados, como, por exemplo, a de aumento de impostos.
As especulações sobre a sintonia entre Paulo Guedes e Bolsonaro nunca cessaram, visto que são valores e trajetórias bem distintas, mas, nos dias que correm, são intensificadas. Já, em relação aos ministros, Sérgio Moro determina medidas urgentes de combate à escalada da violência no Ceará, cujos resultados ainda não podem ser verificados. Noutro ministério, da Mulher, Família e Direitos Humanos, com a Ministra Damares, surgiu um dos temas mais inflamados da semana, pois, segundo afirmação da ministra: "menino veste azul e menina veste rosa". Em que pese ter sido uma fala metafórica para, em suas palavras, combater a "ideologia de gênero".
No campo familiar, Eduardo Bolsonaro, deputado federal, postou, em suas redes sociais, que os professores do Ensino Médio deveriam evitar ensinar sobre o feminismo aos seus alunos. Sem autoridade para tal, o filho do presidente se coloca à frente do ministro da Educação neste caso e, anteriormente, já havia, também, se colocado na condição de chanceler em recente viagem aos EUA.
Afirmei, alhures, que o maior desafio de Bolsonaro seria deixar a lógica de campanha e assumir a condição de líder político e a liturgia do cargo. Nessa semana, isso ainda não se deu. Urgente que se entenda a lógica formal da burocracia estatal e que não se pode comunicar apenas pelas redes sociais. Há necessidade de um porta voz oficial e que os ruídos de comunicação sejam, paulatinamente, eliminados. Em síntese, caberá ao Presidente Bolsonaro assumir, efetivamente, a condução de sua equipe na forma de líder, apresentando capacidade intelectual, técnica e moral para tal exercício. Aguardemos e torçamos para que consiga e, com isso, o país melhore. Um ótimo ano a todos!
*Rodrigo Augusto Prando é cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp/FCLAr.
Nenhum comentário:
Postar um comentário