quarta-feira, 29 de junho de 2016

Não há como impedir segundo turno em Santo André, afirma Ailton Lima


Por Eduardo Kaze

Natural de Manarí, uma das cidades mais pobres de Pernambuco e do Brasil, Ailton Lima (Solidariedade) chegou a Santo André aos 11 anos de idade. Aos 12, passou a trabalhar na indústria gráfica, onde fez carreira e cresceu como empresário. Na política, Lima coleciona vitórias: em 2004, angariou 2.291 votos em sua primeira eleição - ficando, apesar da votação expressiva, como suplente. Quatro anos mais tarde, em 2008, venceu seu primeiro pleito, elegendo-se vereador com 4.191 sufrágios. Se reelegeu em 2012 com 5.746 votos e, em 2014, alcançou mais de 22 mil votos na disputa de uma vaga de deputado federal. Hoje, pré-candidato a prefeito, Lima está à frente de debates que considera importantes, como o projeto que obriga os ônibus pararem em locais seguros para mulheres no período noturno, a criação da “Semana do Controle da Obesidade Infantil” nas escolas municipais, entre outros.

Em conversa com o Jornal Ponto Final, o pré-candidato destacou suas expectativas em relação às eleições deste ano e o crescimento de sua campanha que, segundo ele, tem grandes possibilidades de levá-lo ao segundo turno.

Ponto Final: Como o senhor está conduzindo sua campanha?
Ailton Lima: Começamos um ciclo de palestras na cidade em 27 de janeiro. De lá para cá, não paramos. Diariamente conversamos com cerca de 60 pessoas, no mínimo, em reuniões. Por meio destes bate-papos, nos quais apresentamos o cenário atual da cidade, embasados num estudo realizado no ano passado e que aborda os últimos 30 anos do que vem acontecendo em Santo André, demonstramos para o cidadão as causas das agruras pelas quais eles passam. Isso tem dado certo. Só em palestras, já recebemos mais de sete mil pessoas. Em eventos que participo, já passa de 15 mil. Ou seja, já falamos com mais de 22 mil pessoas, no corpo a corpo. E nossa agenda está completa até 15 de agosto, todos os dias, incluindo finais de semana.

Foto: Eduardo Kaze 
PF: Baseando-se nestes números, quem o senhor diria que é seu principal adversário?
AL: Imagino que a rejeição do Grana e do Aidan seja grande. Acredito que iremos para o segundo turno. Não há como impedir isso. A cidade quer uma novidade. Entendo que não tem como barrarem a ida de um nome novo para um segundo turno. Dentro destes números, vejo uma possibilidade grande de que seja meu nome (a ir para o segundo turno). Não sei, ainda, se com Grana ou Aidan. Existem boatos, dentro das reuniões do PT, nos atacando, afirmando que eu não serei candidato a prefeito, mas sim a vereador. Isso é uma mentira. É sinal de que estamos incomodando. O Aidan, por outro lado, diz que eu não serei candidato, me elogia muito e afirma que eu serei seu secretário em alguma pasta - outro sinal de que estamos incomodando a ele também. Penso que se o PT acreditar que seu adversário no primeiro turno serei eu, ele irá errar muito, pois acho que será o Aidan. Eles precisam resolver qual dos dois irá para o segundo turno, porque os dois não irão. Sendo assim, é possível que o Grana seja meu primeiro adversário, por estar em segundo lugar? Não sei! Se eles entenderem que não podem barrar um nome novo, pode ser que seja o Aidan, pois o PT tem muita munição contra ele e estão esperando para usar isso no segundo turno, mas deveriam repensar essa estratégia, pois podem nem passar do primeiro turno.

PF: O senhor foi líder no governo do Aidan. Como é, agora, estar no lado oposto?

AL: Trabalhamos juntos e, à época, eu entendia que ajudando o governo do Aidan manteríamos a cidade um pouco mais distante dos desgovernos que o PT vinha realizando. Eu via, sim, algumas falhas na administração do Aidan, mas ponderava: ele é uma pessoa, e é mais fácil mudar uma pessoa do que um sistema, e o PT é um sistema. Não me arrependo, mas percebi que apesar dos meus esforços, ele não aceitara meus conselhos, então construí meu distanciamento. Faço a defesa de algumas bandeiras levantadas pelo Aidan, como o Parque Tecnológico, que ele tentou implantar e não conseguiu; defendo a lei de incentivo fiscal, que ele tinha pronta e não deu andamento. Ou seja, no início do governo dele, ele me apontou muita coisa boa, mas foi passando o tempo ele deu prioridade a coisas menos importantes.

PF: Dentre estas bandeiras que o senhor assinalou, e outras que apoiou durante o governo de Aidan, quais poderão ser vistas em seu plano de governo?
AL: Todas elas. Eu me encantei com isso e as pessoas que pensaram nessas bandeiras estão conosco. Hoje, dentro de nosso planejamento de campanha, tenho pessoas que ajudaram o Aidan no início, em 2008, e sonharam com a transformação da cidade. Essas pessoas ficaram no governo dele por um ano e, quando viram o descompromisso pessoal dele com aquilo que havia sido planejado, pediram para se afastar. Estamos retomando esse sonho. Por exemplo, o Poupatempo da Saúde, ele não fez, mas nós iremos fazer. A questão da saúde é bandeira nossa. Uma coisa que ele (Aidan) não colocou, mas estou acrescentando em nosso plano de governo, é a retomada dos serviços da Faisa (Fundação de Assistência a Infância de Santo André). Hoje, se você tem um filho pequeno e precisa de assistência médica, tem que se dirigir a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), dividindo o espaço com pessoas acidentadas, casos até mesmo epidêmicos, e, entendo eu, este não é o ambiente para tratar uma criança. A Faisa foi um serviço de referência, destruído pelos gestores que por aqui passaram, que queremos retomar. A possibilidade da construção de um hospital do idoso também é aventada em nosso plano.

PF: Vislumbrando todo este quadro colocado pelo senhor, atualmente quais são os principais problemas da cidade?
AL: A população percebe mais, e se queixa mais, de problemas na Saúde. Hoje temos uma fila enorme na espera por especialistas, que leva, no mínimo, seis meses. Aí, depois da consulta, outra fila para a espera pelo exame. Ou seja, quem hoje tem uma gastrite vai terminar na fila por uma cirurgia para sanar uma úlcera em dois anos e pouco. Em virtude da falta de desenvolvimento econômico, muita gente sai dos planos de saúde e vão para as redes públicas. O crescimento no atendimento pelo SUS cresceu 17% nos últimos anos, porém as despesas aumentaram 81%, ou seja, há uma falha na gestão.

Temos também o problema da segurança. Santo André é, hoje, um dos seguros mais caros do País e o mais caro do ABC. O crime de estupro aumentou 80% nos últimos anos. Não queremos creditar isso ao prefeito, mas o crime de estupro, por exemplo, depende de um ambiente favorável - o bandido não pega a vítima e leva para um motel para praticar o crime, mas o faz numa rua abandonada, mal iluminada, com mato alto, terrenos vazios ou vielas escuras. Ou seja, uma cidade mais segura, melhor monitorada e bem iluminada dificulta a criminalidade.

A área da Educação também está penando. Para se ter noção, a evasão escolar na educação básica é de quase 60%; isso representa seis crianças em cada dez. Temos dificuldades com as creches também, comprometendo o orçamento das famílias cujas mães não podem sair para trabalhar. Neste mesmo âmbito, Santo André tem um dos maiores índices de afastamento de professores por motivo de saúde. Ou seja, a educação está insalubre. Tudo isso, na minha opinião, é causado pela matriz econômica. Quando você perde receita, traz todas as dificuldades por conta da perda na arrecadação. E para fazer alguma coisa, é necessário ter dinheiro.

PF: E como isso será realizado em seu plano de governo?
AL: Acima de tudo, é necessário estender o tapete vermelho para os empresário e os empreendedores, trazendo-os de volta para nossa cidade. Santo André ainda goza de uma boa estrutura e a indústria é a matriz que move toda a economia: os setores de comércio e serviços giram em torno dela. Celso Daniel foi patrono desta ideia (privilegiar os serviços), mas entendo que talvez ele desejasse uma indústria de serviços com foco na tecnologia, um polo produtor de inteligência, mas o que ficou é um setor que não gera uma cadeia produtiva forte. Temos uma estrutura que somente precisa ser melhorada e diremos aos empresários "vocês são muito bem-vindos em nossa cidade". Para tanto, contudo, será preciso um "choque de gestão". Para se ter uma ideia: no ano de 2014, a despesa na área da Saúde foi de R$ 526 milhões. Destes, a Prefeitura gastou, equivocadamente, apenas R$ 57 milhões na área da prevenção. Digo que é equivocado, pois este número deveria ser maior para que na área da correção não se gastasse tanto, que foram R$ 287 milhões. Ou seja, não estamos cuidando da saúde das pessoas, mas sim da doença. E o mais estranho de tudo isso: a soma destes dois valores dá R$ 344 milhões. Tivemos, então, R$ 182 milhões gastos de que forma? É muita coisa e isso reflete a má gestão da área da Saúde e isso se estende às demais. Precisamos fazer um governo gestor, revisando contratos etc.

PF: Como o senhor considera que o momento político atual, nacional e estadual, influenciará nas eleições municipais?
AL: Acredito que facilitará muito candidaturas como a minha, pois o eleitor estará mais seletivo. Eu imaginava que o eleitor estaria afastado, mas nas reuniões que tenho realizado com a população venho me surpreendendo. Nossa candidatura parece ser uma das únicas da cidade que tem conseguido reunir tanta gente, todos os dias. É o anseio do povo pelo novo. Dentro do atual momento, vejo a situação política com celebração, pois, quanto mais o eleitor estiver seletivo e atento, melhor será sua escolha. E a ansiedade do brasileiro é por mudança.

PF: Como seu partido se comportará em termos de aliança com outros partidos?
AL: Em Santo André, o Solidariedade tem dado liberdade de ação. Eu presido o partido aqui e tenho, da nacional e da estadual, toda a confiança para tocar o projeto na cidade da maneira que nosso grupo achar melhor. O partido não está fechado para uma eventual composição, mas temos hoje uma solução 'caseira', inclusive, podemos disputar a eleição, e vencê-la, com um partido chapa pura. Estamos dispostos a conversar, mas tem que ser alguém que compreenda e ajude nossa construção de projeto.

PF: Vocês já têm um nome para vice-prefeito?
AL: Estamos trabalhando internamente o nome do ex-vereador Gilberto Primavera.

Obs.: Obs.: Espaço aberto a todos os candidatos aos cargos eletivos de 2016. Interessados em apresentar suas ideias e propostas aos leitores do Ponto Final escrevam para redacao@pfinal.com.br. 


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