Foi
divulgada ontem a primeira pesquisa para as eleições municipais de SP de 2016.
O resultado foi catastrófico para o atual prefeito Fernando Haddad. Ele aparece
em 4º com 9%, atrás dos televisivos Celso Russomano e José Luiz Datena, além da
antiga aliada e agora rival Marta Suplicy. O candidato do PSDB, Bruno Covas ou
Andrea Matarazzo, aparece em 5º lugar. Nomes desconhecidos, qualquer um dos
dois tende a crescer com o apoio de Alckmin e os programas eleitorais, o que
torna bem possível que Haddad fique em 5º lugar. Creio que seria algo inédito
na história do mundo um candidato à reeleição ficar em 5º lugar. O que Haddad
pode fazer para mudar este cenário? Em minha opinião, nada.
Haddad é
um choque para SP. Um choque de modernismo para o qual a cidade não estava
mentalmente preparada. Numa cidade em que se fala apenas do indivíduo, ele
pensou no coletivo. Numa cidade em que as pessoas se enxergam como
consumidores, ele nos tratou como cidadãos. Pagará o preço por isso no ano que
vem.
Nunca um
prefeito pensou tanto no coletivo sem fazer concessões. Marta, que também
revolucionou o transporte coletivo em sua gestão, fazia concessões como a
construção do túnel Rebouças, por exemplo. Haddad não. Fez aquilo que se faz em
toda cidade grande de 1º mundo, criou dificuldades para os carros e investiu
nas bicicletas. Mas como convencer pessoas que foram criadas com a ideia de o
que carro simboliza o ápice do sucesso e que entram em prestações eternas para
ter conforto e demonstrar algum tipo de ascensão social a andar de bicicleta?
Um vídeo que circulou nas redes sociais mostra uma bicicleta andando mais
rápido do que um carro na Marginal Pinheiros. Em outros lugares do mundo, isso
faria as pessoas largarem o carro. Aqui, muda-se de prefeito.
Nada
simboliza mais a mentalidade de boa parte da população paulistana do que a
polêmica em torno da redução de velocidade nas Marginais. Eu, sinceramente, não
tenho opinião formada sobre o assunto. Ao mesmo tempo em que tendo a concordar
com medidas que penalizem o uso de automóveis, concordo que a Marginal é uma
via expressa e que é muito improvável um caso de atropelamento nela em que a
culpa não seja do pedestre. Por isso, não acho nada sobre o assunto.
Espanta-me, porém, o grau de polêmica que este assunto gerou. De repente ter que
andar a 50 km/h na Marginal se tornou o maior problema da cidade. Esqueceu-se
até da falta d’água. O Governador da Sabesp teve 49% dos votos na capital. O
Prefeito que reduziu a velocidade nas Marginais tem 9%. Daí pode-se concluir
que o paulistano, em geral, prioriza o carro à água.
No
combate ao crack, Haddad optou pelo caminho da cidadania. Seu programa de
acolhimento aos usuários também gerou críticas e foi maldosamente apelidado de
“bolsa-crack”. Dois anos depois, uma reportagem de um grande jornal traz como
título que 40 % dos atendidos por este programa abandonaram o programa. Uma
manchete mais otimista diria que 60% dos atendidos continuam no programa depois
desse período. 60 % para este caso é muito, basta pensarmos na quantidade de
celebridades que se internam em clínicas milionárias pelo mesmo problema e têm
recaídas. Uma parcela significativa da população não quer seus impostos gastos
nisso. Quando se pensa como consumidor, perde-se a noção de cidadania, perde-se
a capacidade de enxergar o outro com algum grau de compaixão. Estimula-se toda
uma retórica estimulando a competição e a meritocracia que faz com que as
pessoas não reflitam, sendo contra o uso do seu suado imposto na reabilitação
de pessoas a margem da sociedade. Não à toa o defensor dos consumidores está em
primeiro.
Toda
ação gera uma reação adversa de igual intensidade. A onda de rejeição a Haddad
gerará um próximo governo que provavelmente será o seu oposto. O seu pensamento
coletivo será substituído ou pelo já citado individualismo do consumidor de
Russomano ou pelo individualismo do medo de Datena, que receberá os votos
daqueles cuja prioridade é a sobrevivência na alardeada guerra urbana em que
vivemos. A pessoa que tem medo pensa apenas em si. Quer seu imposto gasto em
armas e polícias, não em parques e praças.
O
candidato do PSDB deve crescer, mas creio todos se uniriam contra ele num
provável segundo turno. Não vejo também chances para Marta. Sua candidatura é
um tiro no pé para ela e para Haddad. Os dois têm o mesmo eleitorado,
concentrado na periferia e na “esquerda Vila Madalena”. Aqueles vão de Marta e
estes vão de Haddad, de tal forma que nenhum dos dois terá votos suficientes
para ir ao segundo turno.
O que
resta para Haddad? Para mim, ele deve esquecer a eleição do ano que vem e
pensar em como a história se lembrará dele. Apenas o tempo e a mudança de
mentalidade de uma nova geração serão capazes de reabilitá-lo. Paulo Maluf
deixou a prefeitura de SP em 1996 com 92% de popularidade. Veja como sua gestão
é avaliada quase 20 anos depois.
Haddad
deve aproveitar este 1 ano e 5 meses que restam de mandato para aprofundar as
transformações que vem realizando na cidade e aguentar a provável humilhação
das urnas no ano que vem. Voltar atrás agora significaria prejudicar seu legado
e não trará os votos necessários para um segundo mandato. Nenhuma concessão.
Fechar o minhocão aos sábados e a Paulista aos domingos. Investir no Plano
Diretor e no combate à especulação imobiliária. Estimular a ideia de que uma
cidade não é apenas aquilo que está do lado de fora do vidro do carro no
caminho entre a casa e o trabalho. A cidade também é algo para ser vivido. Hoje
a maioria não valoriza isso. Quem sabe em 2036.
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