quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O fim da gestão Haddad

Por João G. Oliveira no blog 2contraomundo

Foi divulgada ontem a primeira pesquisa para as eleições municipais de SP de 2016. O resultado foi catastrófico para o atual prefeito Fernando Haddad. Ele aparece em 4º com 9%, atrás dos televisivos Celso Russomano e José Luiz Datena, além da antiga aliada e agora rival Marta Suplicy. O candidato do PSDB, Bruno Covas ou Andrea Matarazzo, aparece em 5º lugar. Nomes desconhecidos, qualquer um dos dois tende a crescer com o apoio de Alckmin e os programas eleitorais, o que torna bem possível que Haddad fique em 5º lugar. Creio que seria algo inédito na história do mundo um candidato à reeleição ficar em 5º lugar. O que Haddad pode fazer para mudar este cenário? Em minha opinião, nada.



Haddad é um choque para SP. Um choque de modernismo para o qual a cidade não estava mentalmente preparada. Numa cidade em que se fala apenas do indivíduo, ele pensou no coletivo. Numa cidade em que as pessoas se enxergam como consumidores, ele nos tratou como cidadãos. Pagará o preço por isso no ano que vem.

Nunca um prefeito pensou tanto no coletivo sem fazer concessões. Marta, que também revolucionou o transporte coletivo em sua gestão, fazia concessões como a construção do túnel Rebouças, por exemplo. Haddad não. Fez aquilo que se faz em toda cidade grande de 1º mundo, criou dificuldades para os carros e investiu nas bicicletas. Mas como convencer pessoas que foram criadas com a ideia de o que carro simboliza o ápice do sucesso e que entram em prestações eternas para ter conforto e demonstrar algum tipo de ascensão social a andar de bicicleta? Um vídeo que circulou nas redes sociais mostra uma bicicleta andando mais rápido do que um carro na Marginal Pinheiros. Em outros lugares do mundo, isso faria as pessoas largarem o carro. Aqui, muda-se de prefeito.

Nada simboliza mais a mentalidade de boa parte da população paulistana do que a polêmica em torno da redução de velocidade nas Marginais. Eu, sinceramente, não tenho opinião formada sobre o assunto. Ao mesmo tempo em que tendo a concordar com medidas que penalizem o uso de automóveis, concordo que a Marginal é uma via expressa e que é muito improvável um caso de atropelamento nela em que a culpa não seja do pedestre. Por isso, não acho nada sobre o assunto. Espanta-me, porém, o grau de polêmica que este assunto gerou. De repente ter que andar a 50 km/h na Marginal se tornou o maior problema da cidade. Esqueceu-se até da falta d’água. O Governador da Sabesp teve 49% dos votos na capital. O Prefeito que reduziu a velocidade nas Marginais tem 9%. Daí pode-se concluir que o paulistano, em geral, prioriza o carro à água.  

No combate ao crack, Haddad optou pelo caminho da cidadania. Seu programa de acolhimento aos usuários também gerou críticas e foi maldosamente apelidado de “bolsa-crack”. Dois anos depois, uma reportagem de um grande jornal traz como título que 40 % dos atendidos por este programa abandonaram o programa. Uma manchete mais otimista diria que 60% dos atendidos continuam no programa depois desse período. 60 % para este caso é muito, basta pensarmos na quantidade de celebridades que se internam em clínicas milionárias pelo mesmo problema e têm recaídas. Uma parcela significativa da população não quer seus impostos gastos nisso. Quando se pensa como consumidor, perde-se a noção de cidadania, perde-se a capacidade de enxergar o outro com algum grau de compaixão. Estimula-se toda uma retórica estimulando a competição e a meritocracia que faz com que as pessoas não reflitam, sendo contra o uso do seu suado imposto na reabilitação de pessoas a margem da sociedade. Não à toa o defensor dos consumidores está em primeiro.

Toda ação gera uma reação adversa de igual intensidade. A onda de rejeição a Haddad gerará um próximo governo que provavelmente será o seu oposto. O seu pensamento coletivo será substituído ou pelo já citado individualismo do consumidor de Russomano ou pelo individualismo do medo de Datena, que receberá os votos daqueles cuja prioridade é a sobrevivência na alardeada guerra urbana em que vivemos. A pessoa que tem medo pensa apenas em si. Quer seu imposto gasto em armas e polícias, não em parques e praças.

O candidato do PSDB deve crescer, mas creio todos se uniriam contra ele num provável segundo turno. Não vejo também chances para Marta. Sua candidatura é um tiro no pé para ela e para Haddad. Os dois têm o mesmo eleitorado, concentrado na periferia e na “esquerda Vila Madalena”. Aqueles vão de Marta e estes vão de Haddad, de tal forma que nenhum dos dois terá votos suficientes para ir ao segundo turno.

O que resta para Haddad? Para mim, ele deve esquecer a eleição do ano que vem e pensar em como a história se lembrará dele. Apenas o tempo e a mudança de mentalidade de uma nova geração serão capazes de reabilitá-lo. Paulo Maluf deixou a prefeitura de SP em 1996 com 92% de popularidade. Veja como sua gestão é avaliada quase 20 anos depois.


Haddad deve aproveitar este 1 ano e 5 meses que restam de mandato para aprofundar as transformações que vem realizando na cidade e aguentar a provável humilhação das urnas no ano que vem. Voltar atrás agora significaria prejudicar seu legado e não trará os votos necessários para um segundo mandato. Nenhuma concessão. Fechar o minhocão aos sábados e a Paulista aos domingos. Investir no Plano Diretor e no combate à especulação imobiliária. Estimular a ideia de que uma cidade não é apenas aquilo que está do lado de fora do vidro do carro no caminho entre a casa e o trabalho. A cidade também é algo para ser vivido. Hoje a maioria não valoriza isso. Quem sabe em 2036.

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