O programa de rádio e tevê da campanha de Dilma Rousseff, agora mais politizado e aguerrido, criou um personagem que expressa bem o que é a mídia nativa. Ele se chama “Pessimildo”, um típico rabugento. Com seu cenho franzido e os olhos esbugalhados, ele acha que tudo está errado no Brasil. “Viu que os empregos continuam subindo?”, indaga o locutor. “Tudo o que sobe desce”, responde o ranzinza. “O mundo está em crise, Pessimildo, e o Brasil está protegendo salários"; o boneco-catástrofe discorda. O marqueteiro João Santana, responsável pela peça, até poderia ser mais direto. Ao invés de “Pessimildo”, poderia chamar o personagem de Miriam Leitão ou de Carlos Alberto Sardenberg, os dois mais famosos urubólogos da TV Globo.
Nos últimos doze anos, eles e outros “analistas do mercado” – nome fictício dos porta-vozes dos agiotas financeiros – sempre esbravejaram que o país rumava para o caos por culpa das “incompetentes” gestões de Lula e Dilma. Quase diariamente, eles usaram o espaço de uma concessão pública de televisão para garantir que a inflação iria explodir; que o Brasil ficaria isolado na economia internacional; que o desemprego dizimaria milhares de famílias; e que as contas públicas estavam à beira da falência. Os seus diagnósticos e prognósticos nunca deram certo. Mesmo assim, eles nunca fizeram qualquer autocrítica. A cada erro, os “Pessimildos” radicalizavam ainda mais o seu discurso.
Duas razões explicam esta ranzinze – um politico e outro econômico. Até por uma questão de classe social, os barões da mídia nunca aceitaram a chegada ao Palácio do Planalto de um operário, de um sindicalista. Para eles, trabalhador é para trabalhar e não para pensar – menos ainda para comandar o país. Na sua visão elitista, eles sempre torceram contra o que rotularam de “lulopetismo”. Na ditadura, os barões da mídia apoiaram os generais golpistas; na redemocratização, eles apostaram suas fichas em Collor de Mello; no reinado neoliberal, eles torceram por FHC, “o príncipe da Sorbonne”. Com a vitória de Lula, eles investiram tudo no pessimismo, seja para enquadrar o governante ou mesmo para derrubá-lo.
Além do motivo político, há as razões mais mundanas, econômicas. A mídia monopolista, parte dela totalmente endividada, hoje está associada ao capital financeiro. Para os banqueiros, a presidenta Dilma é um estorvo. No início do seu governo, ela reforçou os bancos públicos e adotou medidas de estímulo ao crédito. Já o Banco Central reduziu as taxas de juros. Os rentistas, que adoram juros altos e o famoso superávit primário – nome fictício da reserva de caixa para pagar os bancos – não gostaram e fizeram terrorismo. O governo até recuou, mas não reconquistou a confiança. Como disse Neca Setubal, a herdeira do Itaú que “educou” Marina Silva, “o mercado é contra Dilma”. A mídia amplifica esta visão.
O “Pessimildo” é realmente uma desgraça para o Brasil. Ele serve aos interesses mesquinhos da elite e prejudica a sociedade. Para derrotá-lo, porém, não basta vencer o pleito de outubro. Ele não é um personagem apenas do período das campanhas eleitorais. Ele manipula a informação e deforma os comportamentos no cotidiano – seja nos programas de TV e rádio ou nas “reporcagens” da mídia impressa. O novo governo deveria enfrentar este rabugento empedernido sem medo ou vacilações. O boneco-catástrofe ajuda a confirmar a urgência de uma regulação democrática da mídia no Brasil. Do contrário, o “Pessimildo” continuará a infernizar nossas vidas depois de outubro.
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