O prefeito Luiz Marinho recusou-se a comentar o resultado da pesquisa do instituto que o Diário do Grande ABC afirma ter criado para mensurar o humor da sociedade em relação ao desempenho dos gerenciadores públicos da região, entre outras atividades. Luiz Marinho diz que desconhece a empresa que faria parte do conglomerado de comunicação do Diário do Grande ABC.
Marinho e Diário do Grande ABC vivem em constantes combates. Geralmente o prefeito fica mal na fita porque não responde às denúncias do jornal. Mas desta feita ele tem razão. O DGABC Pesquisas, como é chamado oficialmente o instituto do Diário do Grande ABC, não será confiável enquanto sonegar transparência aos leitores e eleitores.
Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo |
Todos os demais prefeitos da Província do Grande ABC se manifestam hoje nas páginas do Diário do Grande ABC sobre os resultados da pesquisa publicada na edição de ontem. Não houve uma restrição sequer.
A maioria desfilou o facilitarismo de apontar o mordomo como culpado. Mordomo no caso dos gestores públicos são os jornalistas que dão assessoria a eles. A máquina pública é tão conservadora e multiplicadamente autopreservadora de interesses cruzados que a corda sempre estoura do lado mais fraco. Ainda outro dia o prefeito Carlos Grana trocou quase todo o mundo do setor de comunicação. Culpa-se o mensageiro pela mensagem desagradável.
Grana reagiu a uma pesquisa informal, aparentemente séria, que o colocou em penúltimo lugar no ranking de aprovação da sociedade. Só ganha de Paulo Pinheiro, de São Caetano. O que equivale a dizer que num campeonato da Terceira Divisão, ficou apenas à frente do Jabaquara.
Erros e acertos
Voltando a Luiz Marinho e às pesquisas do DGABC, o titular do Paço de São Bernardo é criticado pelo Diário do Grande ABC na matéria publicada hoje. Segundo transcrição de declarações anteriores, nas disputas que lhe foram favoráveis à Prefeitura em 2012, Luiz Marinho reconheceu os resultados daquela instituição. Ou seja: o jornal tenta incriminar o prefeito por causa de um erro do passado, estendendo-o ao acerto do presente.Luiz Marinho disse a verdade quando declarou que desconhece o DGABC Pesquisas. Se ofereceu uma resposta diferente no passado, tem de arcar com o equívoco, mas não subscrevê-lo de novo. O Diário do Grande ABC insinua que alguém que tenha matado alguém em legítima defesa agora deve ser condenado ao enforcamento porque matou alguém por descontrole emocional no passado.
O empresário de transporte coletivo Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC, está muito mal assessorado nas lides jornalísticas. A credibilidade do jornal é atingida duramente quando lança um instituto de pesquisas sob suspeição permanente. Jamais o jornal publicou uma reportagem sequer, uminha sequer, mostrando do que se trata isso que já chamei de fantasminha estatístico.
A seriedade do Diário do Grande ABC junto ao leitorado e eleitorado em geral fornece combustível retaliatório aceitável quando trata de uma questão tão importante como a tomada da temperatura avaliativa da Província do Grande ABC sobre os mandatários públicos sem expor de forma clara e cristalina o ferramental metodológico que vai a campo.
Já fiz série de observações sobre as debilidades estruturais do DGABC Pesquisas. Há erros imperdoáveis. Mesmo a sondagem que acaba de ganhar as páginas do jornal é uma constelação de dúvidas. Repetem-se falhas.
Margens elásticas
O universo individual de 400 entrevistas em cada um dos Municípios e a margem de erro de cinco pontos percentuais para baixo e para cima são incompatíveis com os princípios de razoável certeza sobre os resultados.Se 400 entrevistas podem ser uma extravagância na pequenina Rio Grande da Serra, em Santo André e São Bernardo, além de Mauá e Diadema, são modelos sujeitos a imperfeições volumosas. A margem de erro uniforme para municípios tão distintos é provavelmente uma conceituação que não resiste a questionamentos de especialistas independentes.
Sabem lá os leitores e eleitores o que significam cinco pontos percentuais de margem de erro? Simples: quem tem aprovação de 30% da população, pode ter 35% ou apenas 25%. Faz diferença e tanto. No caso dos resultados das sondagens para o governo do Estado e para a Presidência da República, a diferença entre os principais competidores pode se estreitar tanto que talvez até se anule.
A aplicação do princípio metodológico de que um candidato em primeiro lugar perde cinco pontos percentuais ao mesmo tempo em que o segundo ganha cinco pontos percentuais fornece o combustível necessário para que, lá na frente, se justifiquem mudanças aparentemente incompreensíveis do eleitorado utilizando-se a margem de erro que de fato chega a 10 pontos percentuais.
Ainda estou em dúvida se vou analisar os resultados publicados nas edições de domingo e segunda-feira do Diário do Grande ABC. No fundo, nada se alterou significativamente ante o histórico de que o PT tem mais votos na região do que na média paulista e brasileira de pesquisas publicadas por outros veículos em tempos semelhantes.
O que me intriga mesmo é que a falta de transparência do DGABC Pesquisas se dá não só na explicitação da suposta estrutura científica de que seria dotado como também na fuga de respostas que a ação do candidato Paulo Skaf impetrou na Justiça Eleitoral, obtendo precariamente a suspensão da publicação dos resultados.
Todos os pontos restritivos da ação do candidato do PMDB não foram sequer tocados nas matérias-resposta do Diário do Grande ABC. Não me parece que essa obscuridade seja boa companheira a quem como este jornalista entende que pesquisas eleitorais são um instrumento importantíssimo à democracia e que não podem ser barradas do baile de informações aos leitores e eleitores, mas que, em contrapartida, também não podem ser algo com que se possa contar qualquer que seja o jornal como salvo-conduto à desinformação, quando não à mistificação, parente próxima da manipulação.
Extraído de www.capitalsocial.com.br em 05 de agosto de 2014.
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