segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O triprefeito, o mártir, e mais ninguém


Por Thiago Rocha de Paula

Esquecer políticos e fatos que marcaram a trajetória política do Brasil é natural, já que não preservamos nossa história devidamente. Vários políticos caíram no ostracismo pelo simples medo rasteiro de sua volta, nos braços do povo. Placas de inauguração, monumentos e documentos históricos somem de repente, como se a história fosse escrita a cada troca de gestão, em qualquer esfera. Esse é o caso do ex-prefeito de Santo André, Lincoln dos Santos Grillo (foto) , morto no ano passado. Nascido em Uberlândia – MG, o advogado, fenômeno eleitoral dos anos 1970, foi vereador, deputado estadual e federal, até ser prefeito pelo MDB, entre 1977 e 1982.



Grillo arrecadou mais sem aumentar impostos percentualmente. Fez e projetou pontes e viadutos, hoje, vitais. Criou o “Calçadão da Oliveira Lima”. Construiu o CRASA (atual CRAISA), para a distribuição de alimentos. Inaugurou três grandes parques públicos, hoje referência na cidade. Estendeu a avenida Perimetral criando o, à época, Complexo Guarará. Além de ampliar o estádio Bruno José Daniel.

Na área da educação, o salto foi evidente. A construção da rede CEARs (Centro Educacional Assistencial e Recreativo) mudou o foco da educação infantil na cidade. Até 1977, a cidade contava com cinco salas de aula voltadas, apenas, para essa etapa da educação. Em 1982 Santo André tinha 150 salas e atendia 12 mil crianças. Então, por que o ostracismo?

Lincoln Grillo foi golpeado pela abertura militar, lenta e gradual, e a prorrogação do seu mandato por dois anos colocou em xeque o empreendedorismo de sua gestão. Grillo viu-se sem verbas federais e estaduais para concluir o começado. Convivia com o revanchismo do Governador Paulo Maluf, a oposição de Newton Brandão, humilhado em 1976, e com o Diário do Grande ABC. Dessa “briga de morte” - assim nomeada por Antonio Roque Citadini, assessor de comunicação da gestão - Grillo saiu derrotado e seu autoproclamado governo popular caiu, e Brandão devolveu derrota em 1982.

O ex-prefeito não repetiu mais o sucesso eleitoral dos anos 1970 e, ressalva feita à educação infantil, seu governo foi apagado da história. O irônico é que as obras projetadas por ele foram concluídas e o Diário do Grande ABC noticiou dignamente o seu falecimento. Reconhecimento? Por esse jornal pode ser, mas de seus sucessores nem de longe. Seus obras mudaram de nome pelas mãos de Brandão e o estádio Bruno Daniel foi mutilado por Aidan Ravin. Injusto? Claro. Chama-se Santo André, a cidade de apenas dois prefeitos, o tri e o mártir.

Thiago Rocha de Paula é Bacharel e Licenciado em História pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).

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