segunda-feira, 23 de julho de 2018

Oswaldo Dias volta às urnas como candidato a deputado estadual

Por Vitor Lima

Político experiente e protagonista do jogo eleitoral no ABC há décadas, Oswaldo Dias (PT), 76 anos, voltará às urnas neste ano, para pleitear uma das 94 cadeiras da Assembleia Legislativa de São Paulo. Dias estava há 10 anos sem disputar eleições.

Na última vez em que se dispôs a concorrer, em 2008, foi eleito prefeito de Mauá, cargo que ocupou até 2012. Anteriormente, Dias havia chefiado a Prefeitura mauaense em outros dois mandatos, entre 1997 e 2004.

Em 2006, o petista também tentou eleger-se deputado estadual. Na ocasião, obteve pouco mais de 84 mil votos – uma votação expressiva, mas que não foi suficiente para que seu objetivo fosse alcançado.

O ex-prefeito conta que decidiu concorrer novamente após pedidos de seu grupo político. A avaliação é de que a imagem negativa das últimas gestões de Mauá e sua atuação no passado cacifam Dias a obter uma boa votação em outubro. Petistas projetam que quem deseja vencer as eleições a deputado estadual deve obter, no mínimo, 60 mil votos.

Prefeito de Mauá três vezes, desta vez, Dias tentará eleger-se deputado estadual | Foto: Giovana Peres
Dias visitou a redação do Ponto Final em 18 de julho, ocasião em que concedeu entrevista para detalhar seus planos para um possível mandato. Eleições presidenciais, a crise mauaense e a atuação do Consórcio Intermunicipal também pautaram o bate-papo. Confira:

Ponto Final (PF): O senhor estava há dez anos afastado das urnas. O que te motivou a abandonar a “aposentadoria” e concorrer novamente?
Oswaldo Dias (OD): Nós temos pessoas mais próximas, militantes, amigos, que acabaram conversando com a gente. Na política, na vida de luta, a gente não tem aposentadoria. Estive afastado das urnas, mas nunca tive afastado da militância. Sempre estive atento, acompanhando todos os movimentos sociais, de reivindicação, de luta, sempre estive ativo. Fui eleito prefeito três vezes, não vou negar que eu tenha qualidades, mas fui eleito pela garra da militância e pela população que votou. Não me sinto tranquilo ao abandonar as pessoas, quando elas reivindicam que eu seja candidato. E nas urnas vamos ver se o eleitor corresponde ao que a militância está defendendo.

PF: Caso eleito, quais serão as principais bandeiras do seu mandato? 
OD: A defesa da Saúde e da Educação é quase uma obrigação, são as políticas sociais mais necessárias. Ainda ontem (17) estive conversando com algumas pessoas e elas comparavam o salário dos professores com o salário de juízes. Que bom (seria) se o professor ganhasse um quarto do que ganha um juiz. Não adianta você querer ter professores bons ganhando R$ 2 mil. Não vai conseguir ter professor qualificado, adequado, com R$ 2 mil, não tem cabimento. Então é lutar por Educação e pela questão da valorização do professor. Na Saúde, lutar para que a cidade tenha repasse necessário pelo atendimento que faz. Outra prioridade, inclusive com as possíveis dobradas, é a integração regional.

PF: O Consórcio tem sido motivo de muitas discussões. Diadema já deixou o órgão, alguns outros municípios indicaram que poderiam seguir o mesmo rumo. A percepção que a gente tem aqui de fora é de que divergências políticas têm atrapalhado a atuação do órgão. Como o senhor avalia o atual papel do Consórcio e o aparente enfraquecimento por qual a instituição passa? 
OD: Estamos em parceria, entre outros, com o Filippi (José Filippi Júnior, ex-prefeito de Diadema também por três vezes e que estará nas urnas este ano para se eleger deputado federal), e a gente vai defender que Diadema reintegre o Consórcio. Acho que cada município sabe o que faz, mas acho que lá em Diadema o Filippi vai defender que a cidade retorne. E nós vamos batalhar para que não haja a ideia de saída do Consórcio, pelo contrário. Nós podemos até mudar a política do Consórcio, talvez levar para uma articulação política, acho que é possível. Mas abandonar a ideia da regionalidade, não.

PF: Sua cidade passa por um momento, também, muito delicado. Como senhor recebeu a notícia da prisão do Átila?
OD: Com bastante tristeza. É duro você ter uma cidade com o prefeito preso. Agora não está preso, mas também não está em exercício. Para a cidade não é bom, independente de posição política. A população fica com baixo astral. É lamentável.

Foto: Giovana Peres 
PF: A dona Alaíde assumiu e mudou boa parte do secretariado, implementou uma nova gestão dentro da Prefeitura e decretou calamidade financeira. Como o senhor avalia a atuação política dela nesse período à frente da Prefeitura? 
OD: Ainda não senti modificação significativa. Pelo menos eles estão levantando a real situação de Mauá, que trabalha com déficit orçamentário muito alto. O governo do Átila é coloca os recursos de quatro anos em dois anos. Como é que se faz isso? Com déficit orçamentário. Vai realizando serviços e vai deixando sem pagar. Isso é lamentável, porque chega um momento que vai estourar mesmo. É uma gestão irresponsável. Neste aspecto, é uma gestão irresponsável, gastando aquilo que não tem para gastar, em todas as áreas.

PF: A gente vê a Prefeitura rachada, os dois grupos políticos trocando farpas e um clima de muita incerteza em relação ao futuro da cidade. O que fazer para tirar o município dessa crise? 
OD: Acho que tem que colocar em debate a situação da cidade. O município está muito endividado, por várias razões, e é muito difícil encontrar um caminho. Eu disse isso lá em 1996, quando a cidade também estava num quadro muito ruim. Eu recebi a Prefeitura em 1997, onde não tinha nem crédito para comprar material na papelaria. A gente conseguiu colocar ordem e tocar, mas talvez hoje esteja pior ainda, graças a essa forma de administrar de deixar rolando dívida. Se Mauá fosse uma empresa, fecharia. Só com debate, discussão e compreensão da população (para a cidade sair dessa situação). Em 1997, quando, nós assumimos, nós fomos para as ruas e fizemos uma bateria de atividades, seis meses de atividades nos bairros, para ouvir a população e passar para a realidade que Mauá tinha. A população precisa saber qual é a realidade de Mauá, independente de quem são os culpados.

PF: Existe a possibilidade do Oswaldo Dias voltar a ser prefeito de Mauá?
OD: Eu torço para que não. Eu torço para que a gente encontre outros caminhos. Agora, tem um chavão que a gente usa: somos um soldado na luta. A gente está sempre à disposição da luta. Se a luta indicar isso não vou fugir, mas espero que a gente tenha outros caminhos. Não é o meu desejo.

PF: Boa parte da arrecadação de Mauá vem do setor químico e petroquímico. Caso eleito, o senhor atuará no fortalecimento deste setor para o desenvolvimento econômico de Mauá e do ABC? Como? 
OD: Como deputado, se eleito, a gente tem que colocar na mesa algumas questões. Tem uma questão básica que eu não consegui enquanto prefeito e como deputado eu vou tentar levantar. Que é onde o ICMS deve ser cobrado. Em todos os outros casos, você produz um objeto aqui e recolhe o imposto aqui. No entanto, em Mauá, a refinaria produz o combustível e o ICMS vai ser cobrado em outros municípios. Mauá não fica com o ICMS do combustível. Mas a nafta, o gás que é produzido na refinaria é vendido em Mauá. Ali você tem o ICMS. Mas o diesel e a gasolina não rendem o ICMS em Mauá. A ideia seria articular a contratação de um advogado constitucionalista para poder fazer essa interpretação, porque o produto é produzido aqui e transportado para outro lugar. A diferença é que não vai em caminhão, vai em tubulação. Qual a diferença de você transportar de um caminhão cargueiro ou por tubulação? Essa é uma pauta que a gente pretende levantar. Onde produz é onde deveria ter a cobrança do ICMS. Essa será uma das prioridades do meu mandato.

Outra coisa que eu pretendo trabalhar é a questão do transporte coletivo. Existia uma promessa do governo de que até 2015 já teria uma nova estação de trem em Mauá e a ideia era transformar o leito da CPTM em um metrô de superfície, o que é fácil, pois o custo é baixo. É só isolar uma linha para o trem de carga e colocar duas para o transporte coletivo e colocar qualidade nela para diminuir o tempo de percurso. Se colocar qualidade igual ao do metrô você vai de Mauá ao Brás em 20 minutos. É uma coisa que nós temos que trabalhar. E a questão do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) que iria ligar São Caetano a Diadema. Nós temos que levantar a importância disso.

PF: Falta força política para a região destravar esses projetos? 
OD: É muito difícil a relação com a CPTM e os órgãos do governo do Estado. Eu acho que o Consórcio é um bom caminho para fazer esse diálogo, a partir de uma reunião com todos os prefeitos da região.

PF: Levando em consideração que a maior liderança do seu partido está presa há mais de 100 dias, como o senhor avalia o momento político do PT? 
OD: Eu tenho defendido que Lula preso é a classe trabalhadora presa. A condenação dele é política, não existe comprovação nenhuma de que ele é dono do triplex. Nós avaliamos que é uma prisão política e que existe uma perseguição simplesmente porque o Lula defende o povo trabalhador.

PF: A indefinição em relação à candidatura de Lula não enfraquece as candidaturas do partido? 
OD: Não, pelo contrário. Nós temos circulado e as pessoas que a gente aborda são majoritariamente pró-Lula. Nós vamos trabalhar com o Lula até o limite e eu espero que as pessoas que estão mais próximas dessa discussão tenham a solução adequada, no momento adequado.

Obs.: Espaço aberto a todos os candidatos aos cargos eletivos de 2018. Interessados em apresentar suas ideias e propostas aos leitores do Ponto Final devem entrar em contato pelo e-mail: redacao@pfinal.com.br.



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