segunda-feira, 30 de julho de 2018

Educação, mulheres e juventude são prioridades de Ana Lídia

Por Vitor Lima

Uma candidatura jovem, feminista, a serviço da classe trabalhadora e socialista. São sob esses motes que Ana Lídia (PT), 30 anos, tentará assegurar uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo. “Quando a gente fala de socialismo, estamos falando que queremos uma Educação e Saúde pública de qualidade para todo mundo, de salários justos e mais igualitários”, explica.

A candidata, nascida e criada em São José dos Campos, atualmente mora na Capital. Ana também morou em Guarulhos, período em que estudou na Unifesp e filiou-se ao PT, aos 20 anos de idade.
Aos 30 anos, Ana tentará uma cadeira
na Assembleia Legislativa | Foto: Reprodução 
Professora da rede pública estadual, a candidata revela que em um possível mandato priorizará a Educação e trabalhará pela valorização dos docentes. Pensar políticas públicas voltadas à juventude e fortalecer o trabalho contra a violência de gênero também serão prioridades.

Ana Lídia conversou com a reportagem do Ponto Final em 22 de julho, ocasião em que cumpriu agenda com apoiadores do ABC, em Santo André. Confira a entrevista:

Ponto Final (PF): Por gentileza, conte um pouco de sua trajetória política. Quando a senhora começou a militar politicamente e quando decidiu se filiar ao Partido dos Trabalhadores? 

Ana Lídia (AL): A política sempre foi muito presente na minha vida por conta da trajetória da minha família. Minha mãe e meu pai são operários. Um tio da minha mãe foi o primeiro sindicalista da família, no Sindicato dos Têxteis de São José dos Campos. Fui criada nesse ambiente. Quando eu tinha mais ou menos 13 anos, comecei a me aproximar mais da vida partidária, por conta de um mandato de um vereador lá na cidade.

Quando eu vou morar em Guarulhos, que eu ingresso numa universidade pública federal, que foi criada pelos governos do PT, é quando eu decido me filiar ao Partido dos Trabalhadores, com 20 anos, em 2008. Muito por entender todo o processo, do que o PT significa para a classe trabalhadora, como um dos principais instrumentos, ainda, de disputa da classe trabalhadora.

Outro pela própria história do partido, por aquilo que o PT defende e porque eu saio de uma cidade que há 12 anos vinha sendo administrada pelo PSDB e vou morar na periferia de Guarulhos, no fim da gestão do Elói Pietá (PT) e passo a compreender o que era uma gestão de trabalhadores para trabalhadores. Foi nessa gestão, e durante os governos Lula, que uma universidade pública federal vai ser colocada na periferia e junto com ela vem um hospital.

PF: Caso eleita, quais serão as principais bandeiras defendidas por seu mandato?

AL: Nossas prioridades, e eu vou falar ‘nossas’ porque essa pré-candidatura é um processo de construção coletiva, são baseadas em alguns eixos fundamentais.

Pelo fato de eu ser professora da rede pública estadual a gente sente o que são esses 20 anos de governos do PSDB para Educação. Não só do ponto de vista da carreira do professor, que sofre um processo de desmonte e de desmantelamento muito forte. Eu tenho dito que a reforma trabalhista que o governo golpista aplica, os governos do PSDB já aplicam na Educação aqui em São Paulo há muito tempo.

A questão da juventude, colocar outras perspectivas de vida para juventude, criar projetos que estejam ligadas ao desenvolvimento profissional, cultural dessa juventude, que hoje luta contra o Estado para sobreviver, que é uma juventude que não vê o Estado mais como referência de vida.

E a questão das mulheres. Eu trabalho com mulheres prostitutas, sou alfabetizadora, dou aula de alfabetização, de reforço escolar e formação política para mulheres prostitutas mais velhas. A gente tem que criar projetos voltados para o desenvolvimento delas sob uma perspectiva de acolhimento na questão da violência doméstica.

PF: Como educadora, qual a avaliação da senhora em relação a qualidade do ensino ofertado pelo governo de São Paulo? Concorda com a progressão continuada? 

AL: A progressão continua seria interessante, mas o que a gente vê agora não é uma progressão. O que significa uma progressão? É o aluno que está progredindo para poder atingir os outros níveis educacionais. Hoje há uma promoção automática. O aluno não tem progressão, qualificação educacional e ele vai sendo aprovado sem ter os pré-requisitos para conseguir ingressar em um outro nível. Para nós é fundamental que se crie outro modelo de escola e aí não vamos falar só da promoção automática.

É outro modelo de escola, com outro currículo, com plano de carreira para o professor, com valorização profissional, com cumprimento do Plano Estadual de Educação, da meta 17 do Plano, que diz respeito a equiparação salarial do professor.

É importante a gente pensar em uma Educação que esteja relacionada com a perspectiva de vida do aluno, uma Educação que dialoga com a realidade dele. O que não é colocado hoje. E na rede estadual muitos deles são alunos trabalhadores e hoje o estado de São Paulo visa um processo de fechamento de salas de aula do ensino noturno. O estado está com uma política de Parceria Público-Privada tentando entregar o ensino médio e o ensino básico para os setores privados e para as OS's. Isso é um ataque à educação pública.

Foto: Reprodução 
PF: Vemos um movimento muito intenso de negação à política, especialmente por parte dos jovens. A senhora também observa este movimento? Como dialogar com esta parcela da população?

AL: O jovem sabe o que ele quer. Essa negação da política é uma disputa que a gente passa junto aos meios de comunicação, que ficam pregando a antipolítica para essa juventude. O resultado disso é a eleição do Dória, por exemplo. O jovem, quando ele fala que não gosta de política, ele está negando, na verdade, as antigas práticas políticas que trouxeram o Brasil a essa atual condição.

Para dialogar com a juventude a gente tem que mostrar que a política é a solução e mostrar outras práticas. Ano passado, por exemplo, eu levei os meus alunos da rede estadual para assistir uma reunião da Comissão de Educação e Cultura na Assembleia Legislativa e ali eles puderam perceber como que absolutamente tudo que diz respeito a política está vinculado a vida deles. Ali eles perceberam o quanto é importante praticar a política e uma outra forma de política.

PF: Nas redes sociais da senhora a defesa dos direitos das mulheres está muito presente. Quais políticas a senhora defenderá na Assembleia Legislativa para que as pautas feministas sejam contempladas?

AL: A gente precisa ter um trabalho que combata de fato a violência doméstica ou qualquer tipo de violência de gênero no nosso estado e, por isso, é fundamental  a gente voltar a discutir dentro dos planos estaduais, dos planos municipais de educação, gênero e sexualidade, porque desde criança a gente tem que fazer uma educação que seja contrária ao machismo  e todas as formas de opressão. Esse é um ponto fundamental. Outro ponto é a gente conseguir promover políticas públicas que estejam voltadas, de fato, ao acolhimento das mulheres que sofrem tanto com violência doméstica ou com violências de gênero de uma maneira geral.

A gente tem que fazer com que a Lei Maria da Penha funcione aqui. A lei foi um grande avanço, mas tem as suas limitações pelo fato de a gente não ter, por exemplo, casas de acolhimento que estejam voltadas a essas demandas e parte das casas que a gente tem estão fechadas. A gente precisa ter delegacias que tenham estrutura de fato voltadas para esse acolhimento porque muitas das delegacias, mesmo as das mulheres, não têm preparo suficiente.

PF: Levando em consideração que a maior liderança do seu partido está presa há mais de 100 dias, como a senhora avalia o momento político do PT? 

AL: Se consolidado a impugnação da candidatura do Lula ela mostra a concretização de uma fraude. Essa Justiça prende o Lula justamente porque sabe que o Lula é a única liderança capaz de vencer as eleições e, vencendo as eleições, de derrotar todas essas medidas golpistas que foram colocadas. O nosso candidato é Lula e vamos com ele até o fim, porque se a gente assume qualquer outra possibilidade a gente assume a fraude do processo.

PF: Considerações finais.

AL: Quero destacar a questão da representatividade. A juventude que não vê a política como uma alternativa, porque não se faz política para a juventude, assim como não se faz políticas para as mulheres. As mulheres e negros, embora sejam a maior parcela da população, têm uma sub-representação em todos os espaços de poder.

Nossa candidatura é uma candidatura jovem, feminista, a serviço da classe trabalhadora e socialista. E quando a gente fala de socialismo a gente não fala assim de um jargão ou um conceito esvaziado. Quando a gente fala de socialismo, estamos falando que queremos uma Educação e Saúde pública de qualidade para todo mundo, de salários justos e mais igualitários. O eixo do socialismo para nós também é um eixo importante. Apesar das dificuldades, a gente tem de colocar isso em pauta.

PF: Não é prejudicial à candidatura defender essa bandeira?

AL: A gente trata a campanha, o processo eleitoral, como um processo de disputa da consciência de classe. É uma ideologia e a gente não abre mão das nossas ideologias. É com elas que a gente vai fazer essa disputa.

Obs.: Espaço aberto a todos os candidatos aos cargos eletivos de 2018. Interessados em apresentar suas ideias e propostas aos leitores do Ponto Final devem entrar em contato pelo e-mail: redacao@pfinal.com.br.



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