segunda-feira, 28 de março de 2016

O civismo na lata do lixo

Por Ariovaldo Caodaglio, cientista social, biólogo, estatístico e pós-graduado em meio ambiente. Ele é presidente do Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo (SELUR).

É preocupante e lamentável observar o resultado de levantamento realizado pelo Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo (Selur): em 2015, foram depredadas, quebradas ou queimadas mais de 36 mil lixeiras na capital paulista. O número representa 25% das 145 mil unidades instaladas na cidade no ano passado.  

As lixeiras, construídas e estrategicamente distribuídas pelos bairros para propiciar o descarte racional do lixo, são consumidas pelo vandalismo, mas também por bizarra diversão de algumas pessoas e em manifestações, que deveriam ser pacíficas nas democracias. E depredar o patrimônio público, principalmente equipamentos importantes para a qualidade da vida, é um típico ato de violência contra a sociedade. Aliás, é um crime previsto em lei, passível de multa e detenção.

"Pagar impostos não isenta ninguém das obrigações inerentes à cidadania", afirma | Foto: divulgação
 O problema da depredação das lixeiras é uma boa oportunidade para aprofundarmos a discussão nacional sobre a atitude das pessoas no tocante à limpeza urbana e a coleta dos resíduos sólidos. A grande maioria da população brasileira, pacífica e ordeira, não destrói o patrimônio público, mas pode avançar muito no sentido de contribuir para o meio ambiente urbano. Para isso, é importante que todos entendam a necessidade de, por um lado, não sujar os logradouros e, de outro, dispor todo o lixo produzido de modo ambientalmente correto. Essa postura, já arraigada em numerosas nações, implica mudança de hábito, em casa, na escola, no trabalho e nas ruas. Trata-se de um comportamento decisivo para que as cidades de nosso país fiquem mais limpas. 

É necessário rever o anacrônico conceito de que as pessoas têm o direito de sujar ou a prerrogativa de não contribuir para que seu próprio ambiente urbano seja melhor para todo. Afinal, pagar impostos não isenta ninguém das obrigações inerentes à cidadania. A propósito, a grande maioria dos municípios brasileiros não cobra taxa específica para a limpeza e varrição das ruas, coleta e destino final dos resíduos sólidos. Precisamos avançar para um conceito mais contemporâneo de que salubridade urbana é responsabilidade de todos. Do mesmo modo, efetuar corretamente a deposição do lixo para a coleta é um compromisso de cada residência, condomínio, empresa, escola e instituição pública ou privada. 

Todo cidadão deve ser um agente proativo do processo e não mais um usuário passivo do trabalho dos serviços de limpeza, varrição e coleta do lixo produzido pela sociedade. Esse exercício mais amplo e consciente de civismo ajudaria muito a população brasileira a viver em cidades mais limpas e saudáveis, sem lixo nas ruas e com menos doenças como a dengue, zika e chikungunya, transmitidas pelo mosquito criado nas águas empoçadas nas lacunas da cidadania.  

Estamos diante de uma questão de educação ambiental. Já passou da hora de progredirmos a um conceito mais contemporâneo de que é responsabilidade de cada um não sujar as ruas nas quais transita e a cidade na qual vive. Precisamos de um avanço, que implica a mudança de atitude de todas as pessoas. A valorização do civismo é decisiva para que nossas cidades fiquem mais limpas e que as lixeiras não sejam mais destruídas.


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