No corre-corre do dia a dia, certamente você ouviu falar dos debates que envolvem a Amazônia. Na TV viu os incêndios que a assolam, devorando a floresta. Parece algo tão longe, mas na realidade este assunto diz respeito a todos. Somos e seremos afetados pelo modo como as florestas do mundo estão sendo tratadas. Quero partilhar com você sobre o sínodo Amazônico que está acontecendo em Roma.
O Sínodo Especial dos Bispos para a Amazônia, que iniciou-se dia 6 de outubro, no Vaticano, vai até dia 24. Convocado pelo Papa Francisco, tem como tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.
O contexto amplo do sínodo é a grave crise socioambiental de que fala o documento papal, que usa uma expressão de São Francisco de Assis, intitulado Laudato si (Louvado Seja): a) A crise climática, ou seja, o aquecimento global pelo efeito estufa; b) a crise ecológica em consequência da degradação, contaminação, depredação e devastação do planeta, em especial na Amazônia; c) e a crescente crise social: pobreza e miséria gritante que atinge grande parte dos seres humanos e, na Amazônia, os indígenas, os ribeirinhos, pequenos agricultores e os que vivem nas periferias das cidades amazônicas.
Mas, a Laudato si’ alerta: “Hoje, não podemos deixar de reconhecer que uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres”(cf. n.49). Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos, e simultaneamente, cuidar da natureza. Tudo está interligado.
Já no anúncio do sínodo, em 2017, o Papa indicava seus pontos fundamentais, ou seja, na Amazônia “encontrar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, sobretudo dos indígenas, muitas vezes esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno, também por causa da crise da floresta amazônica, pulmão de importância fundamental para o nosso planeta”. Portanto, grandes temas: evangelização, novos caminhos, indígenas e floresta. Tudo isto foi sintetizado no tema do sínodo: “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.
Trata-se da missão da Igreja na Amazônia: evangelizar, isto é, anunciar Jesus Cristo e seu Reino de justiça e paz e consequentemente cuidar da “casa comum”, a Terra. No fundo, trata-se de cuidar e defender a vida, tanto de todos os seres humanos, especialmente os indígenas, que ali vivem, quanto da biodiversidade. Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo, 10,10).
Neste contexto, é importante o que o Papa Francisco chama de “ecologia integral”, para dizer que tudo está interligado, os seres humanos, a vida comunitária e social, e a natureza. O que se faz de mal à terra, acaba fazendo mal aos seres humanos e vice-versa. Há necessidade de uma conversão ecológica, inspirada em São Francisco de Assis. Trata-se de propor uma sã relação com a criação como dimensão da conversão integral da pessoa. Mudança no modo de se relacionar com a Natureza.
Isto implica consciência amorosa de não estar separado das outras criaturas, mas de formarmos uma comunhão universal. É preciso ter a consciência de que cada criatura reflete algo de Deus, e tem uma mensagem para transmitir, ou a certeza de que Jesus Cristo assumiu em Si mesmo este mundo material e, agora ressuscitado, habita no íntimo de cada ser, envolvendo-o com o seu carinho e penetrando-o com sua luz.
Somos chamados a reconhecer que Deus criou o mundo e o entregou para que cuidemos dele, e não para desfrutá-lo de forma desastrada, sacrificando tudo ao lucro e ao dinheiro, correndo o risco de destruí-lo e prejudicar a humanidade toda.
*Por Dom Pedro Carlos Cipollini é bispo da Diocese de Santo André.
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