quinta-feira, 12 de maio de 2016

Na guerra do impeachment, a primeira batalha perdida foi a da comunicação

Por Carlos A.B. Balladas

Em complemento ao texto de Cynara Menezes, entre tantos outros erros da esquerda, um deles, sem dúvida, foi o de não implementar a democratização da comunicação no Brasil.

Todo cidadão tem o direito à informação e à voz.

Não há leis que ofereçam ao brasileiro condições de exercer plenamente este direito.

Não houve, nunca, por parte de governos ou partidos políticos iniciativas concretas para que tenhamos uma comunicação plural e democrática em nosso país.

Na guerra do impeachment, a primeira batalha perdida foi a da comunicação.

Boteco Bolivariano: Os erros do PT

Por Cynara Menezes no blog Caros Amigos 

Não vale a pena chorar sobre o leite derramado, eu sei. Mas é importante lembrar para aprender com os erros. E o PT cometeu muitos desde que chegou ao poder. O primeiro deles foi não ter sido revanchista. Deveria, sim, ter promovido uma devassa no governo Fernando Henrique Cardoso. Eleito presidente, Lula, ao contrário, optou por “deixar o passado no passado”; disse isso com todas as letras, pouco após a vitória. Se o PT tivesse mostrado ao País como o PSDB governou, deixaria o inimigo nu. Não o fez e o PSDB atravessou a última década como se fosse símbolo de honradez e honestidade. A memória do povo é curta e o PT ajudou a consolidar a imagem distorcida que se tem hoje de seu principal adversário – o que leva ao segundo erro do partido, não ter investido na reforma política.

Em 2003, Lula tinha a força. O povo estava do seu lado. Era possível mudar as regras de como se faz campanha no Brasil. Quem sabe não teríamos o financiamento público de campanha desde aquela época? Em vez disso, o PT cedeu e passou a se financiar
(a Lava Jato deixa claríssimo) igualzinho aos outros: com dinheiro das mesmas empreiteiras que fariam as obras governamentais, prática que é a raiz de toda corrupção. Pior, o PT acreditou que poderia entrar para este clube sem que nada ocorresse com o partido e suas lideranças. Achou que poderia contar com o beneplácito da mídia, do capital financeiro e dos partidos profissionais na arte de “arrecadar fundos”. Que burrice! Era óbvio que, se havia algum partido a ser defenestrado por essa mistura nefasta entre políticos e empreiteiros, este partido seria o PT. Os outros continuam e continuarão lá. Enquanto seus governos se desenrolavam, Lula também cometeu, por conta própria, um erro gravíssimo. De forma absolutamente fanfarrona, passou a desmerecer a esquerda, quando deveria fincar pé nela, assumi-la. Passou a falar frases bobas de grande repercussão na mídia, mas de profundo desgosto para a esquerda, esquerda de verdade, que o apoiava. “Eu passei tanto tempo achando que ser anti-americano era não beber Coca-Cola; depois fui ficando mais maduro e percebi que quando a gente levanta de madrugada e tem uma Coca-Cola gelada na geladeira não tem nada melhor”, disse, em 2005. No ano seguinte, diria: “Se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela tem problemas”.

Esse afã todo de conciliação com a burguesia dá munição ao inimigo. Estamos vendo agora o resultado. Além disso, ao repetir o comportamento dos partidos que criticava, o PT cometeu um profundo erro de estratégia. Deixou todos os flancos abertos. O partido nunca chegaria a esta situação se tivesse se protegido, se cercado. A sensação de que iria acontecer com ele o mesmo que com os outros, ou seja, nada, deixou os petistas e sua principal liderança, Lula, descoberto.

Outro erro estratégico foi o partido – não o governo – deixar de investir na criação de uma mídia própria. Sempre fui contra ficar esperando pela lei de meios. Enquanto ela não vinha (e ainda não veio, nem virá), era preciso correr por fora. A internet por si democratiza a comunicação. Mas o PT preferiu investir milhões em marketing político restrito ao ano eleitoral, e não em investir continuamente em formação e conscientização política. Que tempo perdido! O partido poderia ter uma TV, um jornal, um bom portal, uma rádio...

Nas últimas eleições, de 2010 e 2014, o PT continuou a cometer erros. O principal deles foi destruir a candidatura de Marina Silva antes da hora. Ora, seria positivo para o País que Dilma enfrentasse Marina em lugar de termos mais do mesmo: PT X PSDB.
Em 2014, o PT poderia ter enfraquecido Marina, para ela chegar ao segundo turno em posição desvantajosa. Mas errou a mão e favoreceu o tucano Aécio Neves. Este erro causou, em última instância, a polarização que vivemos. Não seria assim com Marina.
No máximo, o PT teria perdido para ela – bem melhor do que perder para o PSDB. Há outro erro que pouca gente no partido se atreve a comentar. Lula e o PT não queriam que Dilma fosse candidata à reeleição; achavam que a presidenta não iria segurar a onda do chumbo grosso que viria, e que de fato veio. Mas Dilma deixou claro que queria ser candidata e nem sequer abriu espaço para discussão. Vê-se hoje que talvez o ciclo de Dilma tivesse de ser mais curto. Errou o PT em não submetê-la a prévias e errou a presidente ao não ter autocrítica nem visão de futuro.

O que nos remete a outro erro, mais antigo: houve um tempo em que o PT era, por princípio, contra a reeleição. Quando o partido ganhou pela primeira vez a prefeitura de Porto Alegre, em 1992, a ideia era de que petistas iriam se revezar à frente do cargo,
sem reeleição. O PT, inclusive, foi contra a emenda da reeleição de FHC. Mas, como em todo o resto, aderiu, perpetuando o que considero o maior ônus da esquerda latino-americana, o caudilhismo. Se tivesse se mantido contra a reeleição, o PT teria formado melhores quadros e não ficaria tão ‘lulodependente’.

Observem que, de todas as experiências de esquerda na América do Sul, a mais sólida, sem sombra de dúvidas, é a uruguaia. E não há reeleição por lá. Os esquerdistas se revezam. Pepe Mujica, com todo o carisma e projeção internacionais, deixou o cargo e seu antecessor, Tabaré Vázquez, voltou. A esquerda uruguaia investiu em educação, em preparar seu povo para receber modernidades contra as quais a direita brasileira esperneia: legalização do aborto, da maconha. Uma população consciente prescinde de um líder carismático, de um caudilho, que a guie. Há quem diga que, se não tivesse optado por estes
(des)caminhos, o PT nunca teria governado o Brasil. Será?

 

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