segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Um comportamento chamado “ser” em qualquer “estar”

Por Andréa Tartuce*

Nos tempos digitais, convivemos com uma espécie de vírus com o qual o ser humano se alia, em dado momento, para mascarar seu real comportamento, ajustando-o de acordo com a necessidade do ambiente inserido na ocasião. No ambiente de trabalho, por exemplo, essa alteração comportamental é bastante frequente, principalmente quando há interesse individual se sobrepondo ao do coletivo.

Eis um conflito ético-moral merecedor de um olhar personalizado no sentido de provocar estranhamento à sociedade moderna que, a todo instante, se inspira em comportamentos postos na vitrine como sendo apropriados ou não, sem ao menos levar em consideração seu contexto de realidade, costumes etc. Essa facilidade de troca de comportamento se dá em razão da falta de acesso ao planeta psíquico, como explica o psiquiatra Augusto Cury, justificando tamanha vulnerabilidade ao “fenômeno das aparências”.

Foto: Divulgação
Metáforas à parte, atualmente o “ser” não se apóia à ética (reflexão), de modo que se reverbera negativamente ao “estar”, ou seja, à moral (ação). O que se entende por apropriado ou não, deve condizer com a maneira que se age. Do contrário, não faz sentido pregar algo longe de coincidir com a prática.

O que mais se vê, infelizmente, é indivíduo aconselhando o outro a saudar com “bom dia” o porteiro, mas é o primeiro a fingir não vê-lo. “Ser” em qualquer “estar” tem a ver com o comportamento que se tem em todo lugar, tem a ver com o “eu” em casa, na rua, no parque, no tratamento com os pais, com filho, com o líder, com o empregado… Tem a ver, segundo Clóvis de Barros Filho, com o que não se faria mesmo sendo invisível.

Será que nossas reflexões estão coerentes com nossas ações? Será que é possível pensar de um jeito e agir de outro? Será que os valores morais precisam ser adaptados ao ambiente e/ou pessoas que lá o integram?

A relação da ética com a moral deve ser harmônica e, de acordo com OSHO, o guru da meditação, a chave mestra desse alcance é a consciência, que, por sua vez, pode ser bem trabalhada com a combinação de dois pilares da Inteligência Emocional, criada por Daniel Guleman.

O psicólogo estaduniense, ao estudar sobre como viver de maneira plena, entendeu que as competências social e pessoal melhoram a vida do ser humano, pois auxiliam a edificar bons relacionamentos. Em síntese, o primeiro pilar, competência social, diz respeito à forma de conexão com o outro, enquanto que o segundo, competência pessoal, se refere à conexão consigo.

Logo, o desenvolvimento dessas habilidades contribui e muito com a construção de um ser ético e moral em constante progresso e, por conseqüência, ajudam também a fortalecer o comportamento do “ser” em qualquer “estar”, embora algumas situações nos proponham a, pelo menos, analisar convites indiscretos ou indelicados.

Por isso a importância do bom desenvolvimento das conexões acima citadas, pois servirão como freio para barrar qualquer sugestão que possa infectar a nossa integridade e dignidade ou de quem está conectado conosco direta ou indiretamente.

Mas, se ainda assim, esse freio não for suficiente para concluir se os eventuais convites são apropriados ou não, basta nos lembrarmos da sábia recomendação de Immanuel Kant: “Tudo que não puder dizer como fez, não o faça. Se há razões para não contar, há para não o fazer".

*Andréa Tartuce é advogada, psicopedagoga, mestranda em Direito Acadêmico (Linha "Justiça e o Paradigma da Eficiência"), especialista em Direito Público Global, coordenadora da ESA-Santo André e secretária-geral da OAB Santo André para o triênio 2016-2018.



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